Por Daniela de Oliveira
Atletas prestando continência ao receber medalhas nos Jogos Panamericanos, pessoas criticando, outras tantas a favor, o país com uma ferida aberta por crises no governo, corrupção, crise econômica. Muitas parecem se esquecer da história, do período negro da ditadura. Em uma escala um pouco maior, é como se o mundo se esquecesse de Awschwitz. (para aqueles que não se lembram existem inúmeros documentários no youtube, segue um deles sobre a ditadura: https://www.youtube.com/watch?v=UqgpnC42Caw e sobre Awschwitz: https://www.youtube.com/watch?v=nJoXAhp8hj0).
Entretanto, a maioria das pessoas ignoram o porquê da continência. Nossos atletas são atletas/oficiais (sargentos, para sermos mais precisos), por respeito ao hino e a bandeira, enquanto oficiais do exército brasileiro, eles prestam continência como um comportamento aprendido. Novamente, como em textos anteriores, cito Hannah Arendt que diz que a sociedade impõe regras aos seus membros, como parte do grupo, eles apreendem um comportamento e o repetem. Todavia, o gesto não corresponde à preferência política ou declaração partidária dos atletas, ao contrário do que muitos têm pensado.
Porém, esta não é a maior questão. Na reflexão sobre o gesto, e sobre as ondas de votos a favor e contra, penso o quanto desviamos para o pequeno aquilo que é muito maior que nós. A crítica não deveria ser o gesto de respeito dos atletas por uma instituição que lhes oferece hoje as condições para estarem no pódium, mas à um país que os desmerece a ponto de uma instituição os financiarem como oficiais para competirem, à políticas do esporte que nunca saem do papel, à corrupção, ao desvio de verbas, à má valorização dos profissionais ligados ao esporte, à má educação.
O esporte, desde a época da Grécia antiga, passando pela Segunda Guerra Mundial e pela Guerra Fria, sempre foi utilizado como ferramenta de poder político, uma demonstração de potências. Infelizmente este fato não mudou. E o Brasil, vivendo em sua eterna dicotomia, tem retratado no esporte o jogo social em que vive. O atleta, em seu fazer cotidiano, tenta sobreviver nessa selva, tenta ganhar seu sustento com a profissão árdua que escolheu, como a maioria de nós. Não se questiona fazer parte de um sistema ou não, novamente, como a maioria de nós. Ou você questiona quando sua empresa despede a copeira porque o país passa por uma crise financeira? Questiona quando passam leis na calada da noite? Questiona quando aumentam o salário da assembléia?
Um dos principais aspectos da maturidade é se saber como parte de um todo, responsabilizar-se pela própria existência e pela existência do mundo em que se está inserido, pela coletividade e por aqueles (e aquilos) que nela estão inseridos, tendo consciência e respeito à liberdade. Felizmente, existem alguns representantes em nosso país que lutam por seus direitos e direitos dos outros, lutando por uma democracia justa e contra a corrupção, acreditando na possibilidade de um ser humano melhor, que possa se desenvolver enquanto ser político, sem a necessidade de forças brutas.
E você? Qual o tamanho do mundo que você da conta? Qual o tamanho da sua maturidade?
Daniela de Oliveira é psicóloga e coach, e foi nadadora profissional – pdhpsicologia.com.br