Quando falamos em nado bilateral, estamos nos referindo ao padrão de respiração utilizado no nado de crawl. Neste caso o padrão bilateral acontece quando o nadador utiliza uma frequência de respiração alternando os lados sendo feita a cada um ciclo e meio, ou a cada três braçadas. Também pode ser a cada dois ciclos e meio, mas como a maioria dos nadadores respira a cada ciclo a comparação será feita a cada duas braçadas (unilateral) ou a cada três braçadas (bilateral).
Mesmo um leigo em natação, ao observar atentamente as provas de natação em piscina, principalmente as mais longas (acima de 200 m) concluirá que a grande maioria dos atletas utiliza a respiração unilateral. Isto de deve ao fato que em intensidades altas (acima de 85% do VO2 Max.) e portanto com um consumo de oxigênio alto, um padrão de respiração menos frequente poderia diminuir o suprimento de oxigênio levando a estado de fadiga prematuro e comprometendo a performance máxima.
Mas por outro lado também se observa que muitos nadadores que usam o padrão unilateral apresentam uma certa assimetria na sua movimentação de braços. Isto geralmente é caracterizado por uma menor rotação do ombro oposto ao lado da respiração escolhido e uma menor amplitude e consequentemente menor força na finalização da braçada deste lado oposto a respiração escolhida. Não existe um consenso entre treinadores da modalidade quanto ao uso da respiração bilateral. Porém a grande maioria concorda que o nadador em formação deve ser encorajado a respirar alternadamente. Na fase de aprendizado a grande maioria dos nadadores terá um lado dominante, mas é importante que haja uma estimulação para que o domínio dos dois lados seja completo.
Dentre as vantagens em utilizar a respiração bilateral podemos citar:
– A braçada tende a ser mais simétrica. Ao alternar o lado da respiração o nadador rola o corpo de maneira mais equilibrada conseguindo aplicar a força de forma mais efetiva.
– A restrição da respiração pode melhorar a capacidade de difusão pulmonar. O Treinamento em hipóxia pode, se usado da forma correta, otimizar esta capacidade de difusão e apneia que no caso dos triatletas pode ajudar também quando os mesmos se veem obrigados a bloquear a respiração para ultrapassar a rebentação em condições de mar mais agitado.
– Controlar melhor o posicionamento dos adversários. Isto serve principalmente para os triatletas que podem também se favorecer ao usar pontos de referência que podem estar a sua direita ou esquerda;
– Para quem nada provas de água aberta e triathlons, existe uma tendência ao utilizar a respiração alternada e uma braçada equilibrada que se consiga manter uma trajetória mais linear melhorando a sua orientação no percurso;
– Em águas abertas, algumas vezes a correnteza superficial (aquela produzida pelo vento) que é caracterizada pelas “marolas” pode atrapalhar a respiração. Para o nadador que domina os dois lados, poderá ser benéfico mudar o lado da respiração com a finalidade de respirar mais confortavelmente respirando do lado oposto a estas pequenas ondas;
Como utilizar a respiração bilateral nos treinos e competições:
Inicie utilizando este padrão nas séries de baixa intensidade (baixo consumo de O2) e nos exercícios corretivos (técnica). Se houver alguma dificuldade inicial, alterne trechos com a respiração unilateral. Nas séries de braço com pull-boy, com ou sem o uso de palmares também é recomendado a utilização da respiração alternada, já que o consumo de oxigênio tende a ser menor.
Para as competições pode surgir a dúvida se a restrição da respiração pode afetar a performance, mesmo com a melhora do equilíbrio do nado. Neste caso, para ajudar a sanar esta dúvida procure utilizar como teste algumas séries longas de ritmo de prova com o uso da respiração bilateral em repetições alternadas. Ex: 10 x 200m c/ 20’’ – nas repetições ímpares (bilateral) e nas repetições pares (unilateral).
Mesmo que o padrão de respiração bilateral não permita que o atleta não a utilize durante as provas, o seu uso nos treinos tem com o objetivo de equilibrar o nado sempre trará muitos benefícios.
Existem poucos estudos científicos que possam comprovar a sua eficácia e utilização, mas alguns deles fizeram uma analise descritiva e observaram algumas alterações na musculatura paravertebral e dos membros superiores. Foram constatadas diferenças significativas de volume e elasticidade da musculatura. Em alguns atletas observou-se até um grau moderado de escoliose postural. É muito comum observar nadadores de crawl com um ombro mais alto do que o outro. Além da performance do nado, como falamos anteriormente, isto pode comprometer a performance de triatletas que mesmo não sentindo esta alteração dentro d´água, podem sentir desconforto durante a etapa de ciclismo e corrida e alguns desvios posturais advindos deste desequilíbrio muscular.
Para quem não está habituado com este tipo de respiração é preciso ter paciência e convicção já que ao se alterar um padrão de movimento já estabelecido e adaptado pode haver certo desconforto ou queda da performance inicial. Inicie gradativamente e converse com o seu professor ou técnico para a melhor forma de implementar este detalhe no seu treinamento.
Roberto Lemos é treinador da Ironmind (roberto@ironmind.com.br)