O esporte, ao contrário do que a maioria acredita, não é lugar apenas de saúde. Além das inúmeras lesões corporais que sofrem os atletas, o esporte também é ambiente propício, assim como nossa sociedade, a abarcar transtornos de humor, doenças de autoimagem e síndromes como a do pânico.
Segundo a Associação Americana de Psicologia, uma em cada setenta e cinco pessoas pode experienciar a síndrome do pânico. Geralmente ela aparece na adolescência ou começo da vida adulta.
As causas exatas ainda não são conhecidas, mas parece existir uma conexão entre transitoriedades da vida que são potencialmente estressantes. E devemos lembrar que o esporte, qualquer que seja, é sempre um meio transitório em que se deve aprender a lidar, desde muito cedo, com as impermanências da vida.
Sensação paralisante
Os ataques de pânico surgem repentinamente, um medo inexplicável invade a pessoa, esta se torna refém deste sentimento, se paralisa. As crises aparecem sem aviso e sem nenhuma razão óbvia. É um sentimento intenso.
Sintomas da síndrome do pânico:
- Aceleração do batimento cardíaco.
- Dificuldade de respirar, como se não conseguisse pegar ar.
- Sensação de pavor
- Tontura ou náusea.
- Tremor ou sudorese
- Engasgar ou dor no peito
- Calor repentino ou calafrios.
- Dormência nas mãos ou nos pés.
- Medo de enlouquecer ou de que a morte seja iminente.
Os sintomas são os mesmos experienciados em uma situação de perigo iminente em que nosso sistema nervoso aciona o reflexo de “fuga ou enfrentamento”.
Quando o desafio do esporte se torna sofrimento
Tanto em época de treinos quanto na competição em si, o esporte propõe desafios diários, em que naturalmente o corpo irá experienciar essas sensações.
Em um atleta que sofre de síndrome de pânico, os sentimentos naturalmente vivenciados no cotidiano dos treinos são potencializados, sendo motivo de grande sofrimento. Frequentemente atletas experimentam paralisias diante de grandes desafios, grandes jogos ou competições em que a situação traz em si uma pressão extra.
Às vezes, ter alguém importante assistindo pode trazer essa sensação de que deve performar melhor, aumentando o nível de ansiedade e resultando no oposto do desejado, em má performance. É o famoso “amarelar” na hora da competição.
Não saber lidar com a pressão não é sempre sinal de síndrome do pânico
É importante distinguir a incapacidade de lidar com a pressão da síndrome do pânico. Essa ansiedade que atrapalha a performance é um excesso de pensamentos, a perda do automatismo dos movimentos e do instinto que envolve o momento decisivo.
Na síndrome do pânico pensa-se pouco e reverte-se ao instinto de sobrevivência. Na síndrome do pânico há o abandono de tudo que um atleta treinou para fazer, do autocontrole. É o sistema límbico em sua ação plena, instintual, na resposta de “fuga ou enfrentamento”.
A demora em buscar ajuda
Muitos atletas sentem as crises como um sinal de fraqueza e demoram muito tempo para procurar ajuda, agravando os sintomas. Dependendo do seu nível de habilidade técnico/tática, eles performam em um nível aceitável durante muito tempo. Porém, alguns sinais como falta de foco e dificuldade em cumprir as táticas traçadas para treinos e jogos logo aparecem.
O papel da psicologia do esporte
O próprio atleta precisa vencer a barreira do preconceito de si mesmo, precisa se livrar do rótulo de que atletas são super-heróis e conseguem dar conta do mundo em suas costas sozinhos.
A partir daí, a psicologia do esporte pode colaborar para o tratamento da síndrome do pânico, auxiliando o atleta, junto com técnicos e equipe.
Daniela de Oliveira é psicóloga (pdhpsicologia.com.br) e ex-nadadora profissional