Realizado neste sábado, dia 12 de outubro, no Hawaii, o Campeonato Mundial de Ironman mais uma vez mostrou que os alemães são realmente uma nação de “resistência”. Jan Frodeno (foto de abertura) se tornou tricampeão mundial e ainda bateu o recorde do Ironman Hawaii; entre as mulheres, a pequenina Anne Haug venceu pela primeira em Kona.
HOMENS
Na natação em água quente e mar um pouco mexido, o tiro de canhão da largada para a categoria masculina foi dado às 6h25 – hora local – e logo de início um grupo de nove atletas se destacou, liderado pelo australiano e grande nadador Josh Amberger, que nadou os 3.8km em 47:28; se seguiram atrás dele Jan Frodeno (ALE), Alistair Brownlee (GBR), Daniel Bakkegard (DIN), Tim O’Donnell (EUA), Maurice Clavel (ALE), Patrick Lange (ALE), Braden Currie (NZL) e Jesper Svensson (SUE), campeão do Ironman Brasil 2018. O brasileiro Frank Silvestrin nadou muito bem e veio no segundo grupo, em 15º lugar, nadando em 50:55. O grupo com os grandes ciclistas Sebastian Kienle (ALE), Lionel Sanders (CAN) e Cameron Wurf (AUS) veio praticamente cinco minutos após o líder da natação, e dois minutos após esse grupo, mais outro atleta forte sobre os pedais, Boris Stein (ALE).
No ciclismo de 180km, todos sabiam que o caldo iria entornar, e com 15km o primeiro pelotão era composto por Frodeno, Brownlee (que pedalando numa cadência muito alta alternava a liderança com o alemão), Amberger, O’Donnell e Currie. Lange já estava 30 segundos atrás desses cinco atletas. Brownlee passava a impressão que estava pronto para pedalar mais forte, mas quando apertava o ritmo e abria um pouco, olhava para trás e esperava o grupo mais experiente que ele.
Com 40km o grupo líder teve uma troca, pois Currie sobrou e Clavel entrou e assumiu a liderança da prova. 20km depois, o grupo se mantinha do mesmo jeito, mas uma surpresa entre os perseguidores, com o abandono do bicampeão mundial Patrick Lange, antes de iniciar a subida de Hawi. Depois foi informado que ele teve febre alta à noite e não se sentiu bem no ciclismo, apesar de ter nadado muito bem. O chamado pelos locutores da transmissão oficial “scary group” (grupo assustador) já vinha pouco mais de dois minutos atrás, e era composto, entre outros, por Wurf, Sanders, Kienle e Boris Stein, todos grandes ciclistas.
Na mítica virada de Hawi, onde um vento cruzado de 50km/h entrou, praticamente no meio da prova, o grupo líder perdeu mais um membro, pois Amberger sobrou, mas a distância para o segundo grupo não havia se alterado. Além disso, Brownlee furou o pneu e perdeu algum tempo para repará-lo, mas o fez, e conseguiu retornar junto aos líderes, mas se desgastou para isso.
Com 140km de ciclismo Tim O’Donnell liderava, seguido por Brownlee e Frodeno, 2:30 depois vinha um extenso grupo com os überbikers e novos integrantes, como Kristian Hogenhaug (DIN), Philipp Koutny (SUI) e Joe Skipper (GBR). Pouco depois desse ponto, Jan Frodeno resolveu “largar o martelo” alemão no asfalto abrasivo do Hawaii e aumentou seu ritmo consideravelmente. O ataque funcionou e fez com que O’Donnell e Brownlee perdessem o contato com ele.
Ao entrar na T2, Frodeno, que fez os 180km em 4:16:03, liderava com 2:19 sobre O’Donnell, 3:45 sobre Wurf, 4:02 sobre Kienle, 4:03 sobre Stein, 4:07 sobre Brownlee (que no final do ciclismo perdeu muito rendimento), e outros que vinham na sequência direta, como Sanders. O melhor pedal do dia foi de Boris Stein, em 4:13:18, mas ele viria a abandonar a prova na maratona. Wurf fez 4:14:45, Kienle 4:15:05, Koutny 4:15:15, Hogenhaug 4:15:22, Sanders 4:15:22.
Na primeira passagem controlada da maratona, com 3.2km, Tim O’Donnell havia tirado 36 segundos de Frodeno e a torcida americana se animou, torcendo para ter novamente um compatriota vencendo em Kona – já que o último foi Tim DeBoom, em 2002 –, entretanto, no controle seguinte, com quase 6km, a diferença entre eles já havia aumentado para 2:11 e daí em diante não parou mais de crescer.
Com 24 km o alemão já tinha quase quatro minutos sobre o americano e seis sobre seu compatriota Sebastian Kienle. Alistair Brownlee enfrentava dificuldades e ia ladeira abaixo, mas mostrou persistência e não abandonou a prova, já que na verdade este era seu primeiro Ironman, pois quando se classificou na Irlanda a competição teve a etapa de natação cancelada devido às péssimas condições climáticas.
Frodeno após a prova disse que o recorde não importava, pois o Ironman Hawaii é como o Torneio de Wimbledon para o tênis, o ápice, o que vale é a vitória, entretanto, ele não parava de olhar o relógio e buscou a melhor marca de Kona, e conseguiu: 7:51:13, superando em pouco mais de um minuto o antigo recorde, de seu compatriota Patrick Lange. Tim O’Donnell cruzou a linha de chegada 8:28 após Frodo e foi o vice-campeão, comemorando muito com a bandeira americana seu melhor resultado no Mundial. Sebastian Kienle foi o 3º, 10:52 após o campeão. Na sequência para fechar o Top 10 vieram o americano Ben Hoffman, Wurf, Skipper, Braden Currie, Koutny, o belga Bart Aernouts (vice-campeão ano passado) e mais um americano, Chris Leiferman.
O gaúcho Frank Silvestrin (foto abaixo), nosso único representante na categoria profissional, foi o 30º colocado. Ele fez ótima natação, saindo no segundo grupo, mas no ciclismo, na altura da Queen K perdeu contato com o mesmo e foi perdendo posições. Teve boa recuperação na corrida e fechou em 8:37:06. Depois da prova ele conversou com nossa equipe. “Só fazendo essa prova para aprender como se faz. Acho que vou ter que voltar aqui para aprender… Estou megafeliz! Entreguei tudo que eu tinha. Esvaziei o tanque. Eu vi que é uma prova de ciclismo dentro da prova de triathlon. Tenho que aprender mais essa dinâmica!”, revelou ele.
AMADORES
Na categoria amadora o primeiro brasileiro a cruzar a linha de chegada foi Alexandre Takenaka, em 9:02:45, ficando em 13º na disputada categoria 35/39 anos, categoria inclusive que teve o melhor atleta amador do evento, o português Sergio Marques, que fechou em 8:35:12. O Brasil fez pódio na 45/49 anos, com o 5º lugar de José Graça; nessa mesma categoria o argentino/brasileiro e grande ídolo do triathlon, Oscar Galindez, foi o 2º colocado, com o ex-ciclista profissional do Cazaquistão Alexandre Vinokurov sendo o campeão.
Na categoria 60/64 anos mais um pódio para o Brasil, com Juan Vergara, em 5º lugar. O título brasileiro veio na categoria 65/69 anos, com Roberto Azevedo, sendo o campeão em 11:35:05.
MULHERES
Entre as mulheres, como esperado, a britânica Lucy Charles-Barclay foi a primeira a sair da água, em 49:02, mas dessa vez ela teve companhia, pois a americana Lauren Brandon saiu no seu pé. Um grupo que tinha, entre outras, Sarah True (EUA), Anne Haug (ALE), Imogen Simmonds (SUI) saiu cinco minutos após Lucy, e Daniela Ryf, a grande favorita, 20 segundos após esse grupo.
Com 15km de ciclismo, Lucy liderava e já havia aberto 1:43 sobre Brandon; Ryf vinha 6:38 atrás da líder. Na altura do km 70, no início da subida de Hawi, Lucy já colocava quase cinco minutos sobre a segunda colocada, que agora já era Anne Haug; Daniela Ryf, inexplicavelmente, vinha pouco mais de sete minutos atrás. Sim, ele é humana…
No retorno de Hawi, Lucy Charles tinha pouco mais de seis minutos sobre um grupo que continha Anne Haug, Sarah Crowley, Imogen Simmonds e Carrie Lester. Ryf perdia mais terreno e já vinha 10min atrás.
Ao entrar na T2, Lucy Charles havia construído uma sólida vantagem de 7:53 sobre a alemã Daniela Bleymehl, 8:01 sobre Anne Haug, 8:02 sobre Sarah Crowley e 8:07 sobre Laura Philipp. Daniela Ryf vinha 12:45 após Charles.
Com quase 6km de maratona, Haug já era a segunda colocada e diminuía a diferença para Lucy Charles e assim foi, aos poucos, a pequena alemã com uma mecânica fuida e leve, caçando a britânica. Dentro do temido Energy Lab, o local mais quente da prova, ele passou “de passagem” por Lucy e assumiu a ponta da prova para não perder mais.
A emoção ainda ficou para a disputa do 2º lugar, pois na altura do km 33 Sarah Crowley ultrapassou Lucy Charles e abriu, fazendo com que todos “esquecessem do assunto”, imaginando que a britânica estava já em modo sobrevivência… mas não, poucos quilômetros depois ela se recuperou e Sarah travou.
Ao final, Anne Haug campeã mundial em 8:40:10 (parciais de 54:09; 4:50:18; 2:51:06); Lucy Charles em segundo lugar pelo terceiro ano seguido, com o tempo de 8:46:44 (parciais de 48:13; 4:47:21; 3:06:00) e Sarah Crowley na 3ª colocação, em 8:48:13 (parciais de 54:05; 4:50:13; 2:59:20). Daniela Ryf se arrastou no final da maratona e cruzou em 13º lugar. Após a prova ela disse que durante a semana teve problemas estomacais e não se recuperou totalmente para o evento.
Nenhuma brasileira participou da categoria profissional este ano. Entre as amadoras o melhor resultado brasileiro foi de Thais Mikelle Coelho Lima, que fechou a prova em 10:30:10, e foi a 9ª colocada na categoria 25/29 anos. Matéria em atualização. No aguardo da confirmação dos demais resultados das brasileiras.