O crossfit virou uma febre e, além da grande visibilidade que uma atividade ganha ao ser – digamos – a novidade do momento, tem mesmo características sedutoras, como o alto grau de desafio, superação, dinamismo, competitividade. Se eu não tivesse conhecido, me encantado e me dedicado ao triathlon todos esses anos, escolhendo esse esporte como estilo de vida, eu mesmo acho que experimentaria a modalidade. Até porque sei de excelentes profissionais trabalhando na área em Porto Alegre.
Aí me perguntam o que acho de um triatleta adotar o crossfit como atividade complementar aos treinos de natação, ciclismo e corrida. Eu acho delicado e vejo com ressalvas. Pois foi como eu escrevi: crossfit é uma MODALIDADE por si. Pensá-la como um complemento a quem já treina endurance (como triathlon) pode ser um equívoco. Me pergunto: há periodização nos treinos de crossfit? Compensação de esforço? Projeção de cargas? E mesmo que haja periodização, ela está levando em conta a planilha de triathlon? A periodização do endurance? Por esses motivos, praticar o crossfit como complementar ao triathlon é, na minha opinião, ficar muito mais suscetível a lesões a curto ou médio prazo – pela soma das atividades. Até existem competições de crossfit que incluem entre os desafios um aquathlon ou triathlon, mas, aí, a natação, a corrida ou o ciclismo são parte, não meta.
Para um triatleta ou atleta de endurance, até se pode selecionar alguns exercícios de crossfit como estratégia para o treinamento de força ou manutenção – até porque muitas deles são oriundos do treinamento funcional. Tudo desde que sob supervisão competente e levando em conta, de modo muito cuidadoso, a planilha, o planejamento do triathlon para aquele atleta. Mas isso não o caracteriza alguém que é atleta de triathlon e atleta de crossfit. Assim como um praticante de crossfit que experiencia nadar-pedalar-correr como desafio de prova não poderia ser chamado de triatleta.
Por fim, não estou dizendo que crossfit é perigoso (isso, como sempre, depende de professores e instrutores capazes), nem que triatletas não possam experimentar a modalidade (sob orientação competente sempre), mas na minha opinião que fique claro: será preciso fazer uma escolha ali adiante. Ou uma ou outra modalidade. Até por uma questão de foco. Saber, afinal, o que se quer e por que motivo se quer faz bem a qualquer treinamento, independentemente da modalidade.