Dando ritmo ao seu cérebro

Antes de se começar a falar sobre métodos de indução de ritmos cerebrais, é necessário algum conhecimento básico sobre o funcionamento do cérebro. Sem dúvida alguma, o cérebro é a estrutura mais complexa e o mais interessante instrumento dentre todas as criações que se tem conhecimento na natureza. É consciente de sua existência e tem uma enorme capacidade de se reorganizar. Formado por centenas de milhões de pequenas células nervosas que fazem a comunicação umas com as outras através de pulsos eletroquímicos para produzir atividades como: os pensamentos, a dor, as emoções e os movimentos.

De uma forma geral, constantemente há queixas de falta de criatividade, dificuldade no aprendizado e esquecimentos (perda de memória). Na verdade, isso ocorre porque provavelmente subtiliza-se o cérebro. Independentemente da idade, exercitando, pode-se ampliar significativamente os potenciais, despertando o “gênio” interior, e usar, assim, o cérebro, em toda a sua plenitude.

Existe uma lacuna no campo da ciência do treinamento desportivo no que tange o desenvolvimento das habilidades mentais. Devido a essa carência e (ou) deficiência nos métodos utilizados atualmente no treinamento de atletas de triathlon, que tem como prioridade unicamente o treinamento das capacidades físicas; negligenciando e se esquecendo muitas vezes do treinamento das habilidades mentais. Este pequeno texto se propõe a desenvolver a questão do treinamento mental (já utilizado por muitos atletas e preparadores físicos) para difundir e aumentar as informações nesta área do conhecimento e assim proporcionar a treinadores, atletas e outros profissionais que lidam com o desempenho humano, uma ferramenta segura de intervenção em variáveis que estão diretamente ligadas com desempenho esportivo.

Prática mental, treinamento mental, imagem mental, ensaio mental, visualização ou ensaio visual de comportamento motor são outros nomes que aparecem na literatura, referentes ao treino mental. Todos os termos sempre se referem ao mesmo procedimento. A imagética é um método utilizado para efetuar alterações no comportamento e auxiliar o processo de aprendizagem. Ela corresponde à reorganização e recapitulação cognitiva de uma habilidade física na falta de movimentos físicos explícitos. É entendida como pensar ou o imaginar certas situações da habilidade que se está aprendendo, sem o envolvimento de qualquer movimento real.

A Imagética ou treino mental pode ser classificado de maneira adequada em dois grupos: psicológicas e fisiológicas. Por psicológicas, entendem-se, todas aquelas que tentam explicar a influência da imagética recorrendo a fatores como a motivação do sujeito, capacidade de imaginação ou atenção seletiva. Por fisiológicas: aquelas que agregam e atribuem os efeitos da imagética a fatores orgânicos, tais como o despertar e o descobrir sensorial do organismo ou a estimulação da musculatura envolvida no movimento.

A explicação para as hipóteses fisiológicas é dada a cada movimento imaginado, exercitado e estimulado mentalmente, produzindo micro contrações e em consequência uma melhora da coordenação neuromuscular – onde se tem um efeito fisiológico mais positivo e significativo, pois há um aumento no fluxo sanguíneo na musculatura envolvida.

As unidades musculares são ajustadas e preparadas para a ação durante o processo do treino mental. Durante a ação da prática mental ou imagética, há ativação dos trajetos neuromotores envolvidos para o início da produção na atividade elétrica na musculatura que está envolvida num ato motor, como resposta do imaginário do indivíduo praticante de uma ação. Essa ativação ajuda na aprendizagem de habilidades e no estabelecimento e o reforço dos os padrões de coordenação adequados que necessitam ser desenvolvidos.

Quando as pessoas se imaginam em movimento, um plano de ação é disparado pelo Sistema Nervoso Central em direção aos músculos, acarretando e proporcionando uma forma de treinamento e estimulo na ausência de movimento real do corpo. Ao imaginarem um gesto ou movimento, uma baixa atividade elétrica ocorre na musculatura envolvida no movimento real, mesmo a atividade eletromiográfica sendo muito menor em tamanho do que aquela que é necessária para produzir a ação. Deste modo, a excitação do padrão neuromuscular pode ser desencadeada pela ação imagética, mas sem o risco da interferência de fadiga ou cansaço, o que facilita e melhora o rendimento do atleta.

A vivência mental dos gestos aliados aos estímulos motores oferece mudanças no padrão cortical e induzem nos atletas mecanismos neurais e que também o simples fato de ao se imaginar um movimento ou ação, ativa os mesmos sítios do cérebro, principais responsáveis por este movimento, ocorrendo inclusive registros de aumento de atividade eletromiográfica nos músculo por todo o processo de mentalização. Portanto, ao buscar, mentalmente, a ação dos movimentos, as regiões do córtex, responsáveis por processar e modular estes estímulos, provavelmente, é ativado fazendo que o corpo reaja como se estivesse na eminência real destas situações. A vivência mental coloca o corpo em um estado fisiológicamente similar ao que o próprio estaria diante da situação real.

Mario Roberto Guagliardi é Mestre em Ciência da Motricidade Humana e Especialista em Treinamento Desportivo e de Força (@marioguagliardi)
CREF: 03123-/RJ

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