Desafios de endurance: Por que o ser humano é um animal eficiente?

A explicação para esta resposta remonta há milhões de anos

Por Roger de Moraes

Em localidades do mundo como o deserto africano do Kalahari e regiões do México e da Austrália, seres humanos continuam vencendo antílopes e outros animais muito mais fortes e velozes. Como nossos ancestrais devem ter feito há pelo menos 600 mil anos, utilizam-se da técnica de caçada por persistência percorrendo cerca de 25-35Km durante duas a cinco horas até que a presa pretendida esteja exausta para continuar.

O que muitos não se atentam, é que dentre todos os animais, apenas seres humanos são capazes de realizar desafios de endurance desta magnitude. Mas por que somos tão eficientes para percorrer longas distâncias? A explicação para esta resposta remonta há 500-300 milhões de anos atrás, quando ao desenvolverem estruturas renais envolvidas na excreção de sais, os peixes solucionaram o problema de viver em meio hiperosmótico dos oceanos e “inventaram” os rins. Quando peixes ocuparam lagos de água doce, desenvolveram mecanismos renais para excretar urina hipo-osmolar em relação ao plasma e de reter sais no organismo.

Com a capacidade equilibrada de reter água e sais, a conquista do meio terrestre foi possível, mas trouxe a dificuldade de respirar. A partir de evaginações do trato gastrointestinal surgiram os pulmões como solução, mas como neste órgão as barreiras capilares precisam ser finas o suficiente para permitir as trocas gasosas, para evitar edema, o sistema circulatório neste leito precisou manter a baixa pressão.

Tal característica inviabilizou o rendimento aeróbico de anfíbios que tinham hemácias sete vezes maiores do que as de humanos. Evidências indicam que o tamanho das hemácias dos animais terrestres foi sendo reduzido desde anfíbios até répteis, e diminuiu ainda mais em mamíferos. Tal situação permitiu o aumento da densidade de capilares extremamente diminutos aonde as hemácias só os atravessavam se pudessem ser suficientemente deformadas. Essa estratégia evolutiva teve um preço alto. Para manter o fluxo nesse tipo de sistema seria necessária manter alta pressão e essa foi a característica de anfíbios que possuidores de sistema de baixa pressão apresentam igualmente baixa capacidade de endurance.

Roger de Moraes – @demoraesroger

Ex-triatleta Profissional, Professor de Fisiologia Geral
Doutor em Ciências com Pós-Doutorado no Laboratório de Investigação Cardiovascular do Instituto Oswaldo Cruz – Fundação Oswaldo Cruz

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