Saiba treinar também sob a percepção de esforço, apenas sob o comando do seu próprio corpo
Nos meus 20 anos de experiência como atleta e técnico, eu passei por todas as “modas” no triathlon, incluindo diferentes métodos de treino e, por último, os equipamentos sofisticados que são usados como ferramentas de treino (como o frequencímetro, o GPS, o potencímetro e etc…)
Apenas há alguns anos atrás foi que eu aprendi um método diferente de treinar, basado em desenvolver a percepção do esforço e a conscientização do corpo, que é a base do meu método de treinamento, chamado Periodização Inversa.
A primeira vez que eu “abri os olhos” e comecei a pensar diferente, foi quando eu competi no Ironman do Japão em 1997. Naquela época, eu baseava todo o meu treino em zonas de treinamento, controlado através de frequencia cardíaca.
Eu tinha zonas específicas para a bike e para a corrida, portanto estava preparado para a prova.
Infelizmente, na manhã da prova, quando eu estava preparando o meu relógio sofisticado (na época) da Polar, uma má notícia….
A bateria acabou!! Como se o nervosismo da prova não fosse suficiente, agora eu estava adicionando um outro stress – Como vou conseguir controlar o meu esforço sem o meu Polar????
Bom, não precisa nem contar como foi a minha prova…. Apesar de todo o treino que fiz, tive uma performance abaixo do que eu esperava. Eu pedalei como o Lance Armstrong nos primeiros 60km de percurso com muito vento e logicamente paguei um preço caro. Quando terminei a prova tive que ir imediatamante para a tenda médica.
Naquela época eu tinha uma confiança tão grande no treinamento por zona cardíaca, que eu só pensava em culpar o “maldito” Polar, nunca em não ter a habilidade de perceber o esforco necessário para a distância. Uma boa percepção de esforço teria me guiado para uma performance melhor, terminando a prova de maneira saudável e não nas mãos de médicos. Nesse momento, eu ainda não sabia que eu era “escravo” do meu Polar.
De acordo com o Wikipedia a percepção é definida com o processo de obter sensibilidade ou o conhecimento de informação sensorial. Para os atletas, significa a habilidade de ler os sinais que o corpo nos manda, detectando o esforco. Quando se usa frequencímetro, GPS ou potencímetro, nós estamos apenas seguindo “números” e não o que o nosso corpo está nos dizendo.
Ao contrário dos números informados pelos equipamentos, a percepção de um esforço específico não se altera.
Por exemplo, se você está correndo leve, você está seguindo a percepção de esforço que parece leve para você, não importa se você está em forma ou não – “leve” sempre será leve.
Mas se você está seguindo uma zona de frequência cardíaca, por exemplo, dependendo do seu nivel físico, de stress, fadiga, saúde ou outras possíveis variáveis que sabemos que alteram o batimento cardíaco, a sua frequência pode variar em até 20 batimentos por minuto! Ou seja, treinar seguindo o batimento cardíaco nesse momento pode te levar a treinar muito forte ou muito fraco…. Mesma ideia se aplica a força (watts) na bike.
Se você treinar sem nenhum desses equipamentos, você é “forcado” a prestar atenção e ter a sensibilidade de como o seu corpo reage ao esforco, pois nada (números) estará te “guiando”.
Nesse momento, sua percepção te dirá se o esforço é leve, moderado, confortável, desconfortável ou Hard. O quão rápido você está treinando, dependerá do nível de fadiga do corpo no dia. Então se basear em ritmo (corrida) ou velocidade (na bike) também é uma forma imprecisa de medir o esforço.
Outra vantagem de treinar simplesmente pela percepção é ter a oportunidade em focar na sua forma e técnica, já que você estará com uma sensibilidade maior de como o seu corpo move e reage, sem as distrações dos “números”.
Por exemplo, você pode, num dia, correr a 4:30 min/km e o esforço pode parecer confortável, mas em outro dia quando você estiver fadigado, esse mesmo ritmo de 4:30 poderá ser difícil de sustentar. Então qual é o nível de esforço em que você deveria treinar?
Se você seguir sua percepção ao invés de ritmo, você SEMPRE estará treinado na intensidade correta. Nesse caso, o ritmo confortável de 4:30 num dia, pode ser 5:15 em outro!
O corpo humano não é uma máquina precisa que pode ser controlada por números. O corpo pode reagir de maneiras diferentes a cada dia, portanto seria bom você desenvolver uma melhor percepção e sensibilidade para melhor entender o seu corpo e competir mais rápido!
“A ciência não é mais do que um desenvolvimento da percepção, intencionalmente interpretada, usando bom senso precisamente .
Sergio Borges
Sergio Borges X Training
SergioBorges já classificou 105 atletas para o Ironman do Havaí (Campeonato Mundial) tem formado campeões de Ironman e 70.3 além de levar vários atletas amadores ao pódio.
Para maiores informações sobre programas de treinamento ou clínicas, consulte o website: www.sbxtraining.com