Como se tornar um atleta de fato, no sentido de ter os treinos firmemente incorporados à rotina? E para quem quer fazer sua estreia (e ficar) nesse mundo da prática esportiva, qual o caminho para os iniciantes? Por fim, uma vez estabelecido no meio, como ganhar maturidade no esporte escolhido?
Para mim, as dicas abaixo respondem com propriedade todas essas perguntas. Não inventei a roda e nem pretendo: são bem conhecidas, e meu objetivo aqui é reforçar o raciocínio que sustenta essas dicas, ou melhor, práticas. É bom entendê-las assim: não são complementares a uma estrutura que você acha que tem individualmente, elas são a própria estrutura do nosso relacionamento com um esporte, seja qual for o de sua preferência – isso se estamos falando de um relacionamento duradouro.
1 – TENHA UMA META
Não precisa ser a meta do seu colega, precisa ser a meta que anima você, que o mantém com energia. E não estou falando precisamente de uma competição. Pode ser perder peso, melhorar tempos, técnica ou eficiência. A meta, seja qual for, vai ser definida com o treinador e juntos irão trabalhar em uma direção. Quanto mais clara essa direção, melhor.
No caso de um iniciante em triathlon, por exemplo, se a meta for uma prova, o interessante é começarmos com uma distância curta, sendo este o triathlon short. As provas são sim metas muito eficientes. Quem pensa em longevidade no esporte, estipular um calendário de provas para o ano, tornando-se motivador. Provas alimentam o atleta e são grandes sinalizadores do que é preciso melhorar. O ritmo desse calendário vai depender de cada um, e de cada objetivo traçado.
Além de uma grande meta nítida, é interessante fracioná-la: ter um passo a passo de conquista. E cada passo ter em si um mini desafio, sendo um desafio real e possível, para cada sessão, para cada dia ou para cada semana.
2 – FAÇA PARTE DE UM GRUPO
O treino em grupo tem um peso muito grande, mais de 50% na capacidade de nos manter ativos, dispostos, energizados, comprometidos com esse dia a dia de que falei no item anterior, ajudando a tirar o peso da rotina. Um amigo no treino é sinônimo de vontade, de compromisso. Você não quer desapontar ninguém, nem quer ser desapontado. Ao mesmo tempo, se sente acolhido, compreendido. Ninguém entenderá você melhor do que um companheiro de treino.
Essa conexão social é crucial. Quem se isola dificilmente consegue permanecer muito tempo treinando. O grupo levanta a moral, ajuda a sair da zona de conforto, permite a troca de experiências e informações. Aprende-se demais num grupo, só por estar nele. Além disso, ter alguém que é inspirador ou que tem uma performance a ser batida é muito saudável.
3 – PERSONALIZE
A relação com o treinador não pode ser unilateral, só na espera do que ele diz para fazer. Você precisa muni-lo de informações pessoais, da sua rotina, para que ele e você, juntos, construam a melhor estratégia de treino, tendo em vista cada objetivo. De que adianta um treinador aumentar o volume de treino sem que o atleta esteja conseguindo cumprir? Quanto mais horas de treino, mais horas de recuperação são necessárias. Elas estão sendo atendidas? Quando você vê uma planilha, enxerga números. Por trás deles, está uma estratégia do coach. Essa estratégia pode ser mantida com outra configuração de planilha, esteja certo.
Então, aproveite ao máximo o tempo com o treinador, nessa conversa, para criar um plano personalizado, o mais próximo possível do ideal para a sua rotina. E isso é bem dinâmico, não engessado. A conversa acontece regularmente, para que ajustes sejam feitos.
Aqui, a gente começa a abrir espaço para uma atitude fundamental: flexibilidade.
4 – PLANEJE SUA SEMANA
Visualize sua planilha de modo abrangente. Saber a quantidade de horas que fica envolvido com treino a cada dia, a cada semana, ajuda muito na organização. Visualize cada um dos dias e planeje, consciente de que empecilhos podem ocorrer. Ter plano B, jogo de cintura é fundamental. Alguma coisa sempre fica no caminho, não significa que estragou todo o ciclo de treinamento. O objetivo do planejamento é, antes de mais nada, eliminar desculpas para o treino. No mais, todo treinador sabe (e deseja) que seu atleta harmonize os treinos com a rotina de trabalho, vida pessoal, recuperação… De novo, voltamos à atitude de “ser flexível”. Isso não quer dizer indulgente. Encontrar o equilíbrio disso é uma arte e pode demorar um pouco para dominar.
5 – PERSISTA E DIVIRTA-SE
Manter-se consistente é chave para ganhar performance. Se for praticado tudo o que se disse até aqui, a consistência virá ao natural. É a consistência que permite a progressão, a maturidade no esporte – e também desempenha um papel importante na prevenção de lesões.
A pressa e a preguiça são nossos grandes inimigos nessa busca de longevidade numa prática esportiva. Ao invés de pensar em pular etapas, assegure-se de que você está se divertindo. Essa é a dica final: o envolvimento com o esporte tem de proporcionar prazer, alegria, e ao mesmo tempo diversão. Afinal, quem fica muito tempo onde se sente desanimado ou triste?