A popularização da chamada terapia de reposição hormonal masculina tem sido crescente, e na mesma proporção, controversa; justamente por se tratar de um tratamento necessário em alguns casos, mas em outros, um doping disfarçado para atletas amadores. Conversamos com o Dr. Hélio Ventura, um dos médicos mais conceituados do meio, e atuante na área desportiva desde 1986, sobre este tema. Veja sua embasada opinião sobre a TRH:
Em que consiste a reposição hormonal masculina? Como geralmente é feita?
A chamada “reposição” hormonal seria definida como a administração medicamentosa de hormônios masculinos para atingir um determinado nível para a idade ou independente da idade.
Algumas publicações científicas citam que esta diminuição na produção do hormônio masculino está presente em apenas 15% dos homens entre 50 e 60 anos e acima disto conforme a idade vai aumentando. O que justifica esta popularização da TRH para homens abaixo desta faixa etária e sem a deficiência?
Algumas publicações sugerem níveis a partir de uma curva estatística de normalidade com pouca correlação com doenças ou sintomas decorrentes desta diminuição. O correto seria administrarmos hormônios apenas quando houver indicação clinica além dos exames alterados. A utilização “preventiva” não é considerada uma prática médica ética.
Fatores que ajudam o retardo deste processo de diminuição são justamente a prática esportiva, dieta equilibrada, não fumar etc., ou seja, exatamente o que atletas fazem. O TRH para atletas amadores está mais para o caminho de um doping com atestado?
A prática esportiva tem como efeito crônico o retardo desta diminuição fisiológica, ao contrário da sarcopenia e da obesidade. Porém, o efeito agudo do treinamento, principalmente o excesso de treinamento, é uma diminuição temporária dos níveis de testosterona.
Afirmo, com certeza, que a imensa maioria dos atletas que fazem a TRT ou TRH utilizam com fins de aumento de performance e entre os que têm baixa produção, também a grande maioria deve isto a dopagens anteriores.
Quais os riscos à saúde deste tratamento em especial sem a real necessidade?
Os riscos, começando por cima são: Alterações comportamentais, em libido e agressividade principalmente, com efeito negativo após a interrupção; perda de cabelos (androgênica) e aumento em algumas regiões; aumento de risco cardiovascular, inclusive com queda de HDL (colesterol protetor); alterações hepáticas, em próstata e testículos. Estes riscos aumentam até mesmo em doses fisiológicas.
Deixando de lado o TRH e TRT, o uso indiscriminado de anabolizantes acarreta que tipo de complicações ao usuário?
Os chamados esteroides anabolizantes são substancias análogas à testosterona, utilizados principalmente com fins esportivos e estéticos. Ao modificar a molécula da testosterona a intenção seria diminuir os efeitos androgênicos e aumentar os efeitos anabólicos.
Existem anabolizantes disfarçados de suplementos nutricionais, vendidos livremente em lojas do ramo? Ou isto é mito?
Existem sim, alguns extremamente tóxicos, até mais do que os anabolizantes “normais”
Helio Ventura, formado em Medicina na UERJ em 1981, é especialista em medicina desportiva pela UFRJ em 1987 e atua na área de esportes de competição desde 1986.
e-mail: dr.helioventura@gmail.com