Entrevista: Giulia Bortolotto, triathlon com arte

Jovem triatleta profissional e com grande potencial no esporte, Giulia se destaca pela dedicação ao triathlon e ilustração digital

A jovem Giulia Bortolotto, de 18 anos, trocou o voleibol pelo triathlon há quatro anos e meio e, hoje, já almeja ter seu futuro profissional em provas de longa distância. Paralelamente ao “nadapedalacorre”, faz um trabalho incrível de ilustração digital, que sempre tira um sorriso do rosto de quem vê o resultado. Conheça um pouco mais sobre a triatleta que sabe muito bem conjugar esporte com arte.

O que mais te motivou a entrar para o triathlon?

Em 2018, eu me mudei de Gramado para São Bento do Sul, e lá tinha uma equipe de triathlon que um amigo da minha mãe fazia parte. Na época eu era atleta de vôlei e até já tinha entrado em uma equipe na cidade. 

Em um final de semana, esse amigo da minha mãe me chamou para treinar com eles, ele sabia que eu sempre tinha feito esporte desde pequena, então me convidou para conhecer o triathlon. Naquele sábado eu fiz um treino de transição com a equipe, e depois daquele treino nunca mais voltei para o vôlei. Conversei com o treinador da equipe e naquela mesma semana comecei a treinar triathlon.

Desde pequena eu sou uma pessoa que se cobra muito em tudo que faço (um dos pontos que eu trabalho bastante com o meu psicólogo Fernando), então é claro que no triathlon não seria diferente, eu sempre queria mais. Em 2021, já morando em Itajaí, comecei a treinar com a equipe CPH, e foi onde eu tive a certeza que queria ser triatleta profissional. Posso dizer então, que o que me motiva é sempre dar o meu melhor todos os dias, sabendo que há um caminho longo a ser percorrido.

No início do triathlon, qual foi a maior dificuldade?

Acredito que eu possa dizer que ainda estou no “começo”. O triathlon não é um esporte barato, então uma das minhas dificuldades, acredito que seja a dificuldade de muitos, é o custo desse esporte. Além desse ponto, a organização do tempo, baseada na planilha de treinos, também é essencial e um pouco complicada (principalmente agora com as ilustrações digitais).

 

Após uma cirurgia de emergência, se sentindo bastante entediada na recuperação, que você começou a fazer suas ilustrações, certo? Já desenhava antes?

Sim, eu já desenhava antes, mas nunca tinha trabalhado com ilustração digital. Minha tia é Doutora em Artes pela Universidade de Barcelona e sempre me dava material de pintura e livros de presente, então desde pequena tive o contato com o desenho. Fiz aulas de pintura em tela e sempre gostei do lado mais realista da arte, então os “cartoons” foram algo bem fora da minha zona de conforto como artista.

 

Como surgiu a ideia de fazer ilustrações especificamente de atletas? 

Nunca pensei que as ilustrações seriam algo que fosse “pegar” nas redes sociais. O meu pós-operatório foi bem complicado, tive duas lesões, decorrentes da cirurgia, nessa fase de voltar aos treinos, então fiquei um período com pouquíssimo treino para conseguir me recuperar 100%. Nessa época eu tinha acabado de entrar na equipe CPH e começar a treinar junto com os triatletas profissionais, então a minha cabeça estava 100% triathlon. Quando precisei ficar um pouco ausente do esporte, foi muito difícil não pensar no triathlon e no que eu estava perdendo. 

Eu havia acabado de ganhar um Ipad e comecei a assistir vídeos de ilustrações digitais para tentar me distrair. Foi aí que comecei a desenhar os atletas que eu tinha como inspiração (Daniela Ryf, Lucy Charles-Barclay, Paula Findlay…) e acabei compartilhando no meu Instagram. Nunca pensei que os desenhos fossem chegar até as pessoas de referência, mas quando alcançou, a reação dos atletas foi muito boa, por isso continuei fazendo. 

 

Qual a maior dificuldade de fazer este trabalho artístico?

A maior dificuldade mesmo seria o tempo. Como toda ilustração é feita a mão e por mim (variando o tempo de trabalho de 2 até 4 horas) fica um pouco complicado encaixar com os horários e as dinâmicas dos treinos. De qualquer forma, é algo que eu tento deixar leve, não quero que se torne algo que eu “tenha” que fazer, mas sim algo que eu “quero” fazer. O meu foco no momento é o triathlon e a minha performance, mas acredito que esse lado artístico me ajuda a desestressar e tirar um pouco a cabeça dos treinos.

Qual ilustrações foram as mais difíceis?

O meu projeto mais difícil, até o momento, foi o baralho que eu fiz para o Campeonato Mundial de Ironman, do ano passado. Foram 50 cartas, mais a caixinha que eu tive que ilustrar e montar. Como cada carta continha a pontuação de cada atleta nas três modalidades (todos os dados baseados na pontuação já existente da PTO e do ranking mundial) esperei até a última atualização do ranking pela PTO, antes da prova em Kona, para começar a impressão e a montagem dos baralhos. Então foi um pouco corrido.

De quais atletas já teve uma reação positiva sobre seu trabalho?

Nunca imaginei que as minhas ilustrações fossem alcançar os atletas de nível mundial, mas as reações que foram mais marcantes foram as do Kristian Blummenfelt, Gustav Iden, Daniela Ryf e a da Lucy Charles-Barclay. Em outubro do ano passado tive a oportunidade de conhecê-los em Kona, então consegui entregá-los as ilustrações pessoalmente, e ver a reação de cada um foi algo muito legal. 

Outra pessoa que foi extremamente simpática e que me apoiou bastante foi a triatleta americana Haley Chura, inclusive me convidou para seu podcast no final do ano passado (fiquei bem surpresa e contente). 

Lucy Charles, Daniela Ryf e Anne Haug, by Giulia Bortolotto

Como divide seu tempo entre o triathlon e seus outros afazeres?

Minha rotina é baseada nos horários do treino de cada dia. A partir da planilha consigo encaixar os horários de trabalho com as ilustrações sem atrapalhar nenhum dos dois. 

Quais seus objetivos no triathlon?

Meu objetivo é ser conhecida pelo triathlon e não apenas pelas ilustrações. Uma visão a longo prazo, tenho como objetivo as provas de longa distância, então competir em um Campeonato Mundial de Ironman 70.3 e full com os melhores do mundo está no meu “bucket list”. Um objetivo mais próximo é continuar os treinos procurando evoluir um pouco a cada dia, aprendendo muito com meus companheiros de equipe e balanceando tudo isso com um corpo saudável e sem risco de lesões. 

 

Qual a prova inesquecível que tem como triatleta?

Até agora não tive uma prova que eu diria como “inesquecível”. Mas uma prova que foi importante pra mim foi a minha primeira prova largando na Elite, em Guaratuba, ao lado da Pâmella Oliveira. Em termos de performance, foi uma das minhas piores provas, uma semana antes da minha cirurgia, mas foi uma baita oportunidade largar ao lado de uma atleta de nível mundial.

2023, quais são os planos esportivos e artísticos?

2023 o foco principal serão as provas de curta distância, Sprint e Olímpico. Sinceramente, ainda não tenho planejamento para as ilustrações, na verdade já foram além do que eu jamais teria imaginado. Bem provável que eu mantenha o mesmo esquema do ano passado, ilustração dos pódios das provas principais e o start list dos campeonatos mundiais (70.3, full). 

Pâmella Oliveira, by Giulia Bortolotto

Quais seus ídolos no triathlon brasileiro e internacional?

No triathlon brasileiro, sem dúvidas, a Pâmella Oliveira. Sou muito privilegiada e grata pela oportunidade que eu tenho de treinar ao lado dela todos os dias. Ela é uma pessoa que eu sei que se eu tiver qualquer dúvida ou precisar de alguma ajuda, posso contar com ela. No triathlon internacional acho muito difícil escolher apenas uma. Cada atleta tem a sua peculiaridade/estilo de prova que me inspiram de formas diferentes. Mas acho que a minha maior inspiração é a Daniela Ryf. Adoro acompanhar as provas em que ela está no start list; ela é uma atleta extremamente inteligente durante as provas e acho a forma como ela compete muito marcante, principalmente na modalidade do ciclismo.    

PROFILE

Nome: Giulia de Araujo Bortolotto

Nascimento: 23/05/2004

Cidade natal: São Paulo/SP

Cidade em que vive: Itajaí/SC

Tempo de triathlon: 4,5 anos

Técnico: Rafael Cruz/Palito

Psicólogo: Fernando Giovannotti

Fisioterapeuta: Julia Vanz (OsteoSports)

Preparadora Física: Gisele Schmitt

Bike:  Trek Madone SL7

Capacete: S-WORKS Evade 3

Sapatilha: Shimano

Tênis de corrida: ASICS metaspeed

Roupa de borracha: Roka Maverick

Óculos de natação: Aqua Sphere Fastlane

Apoio e patrocínios: “Meus pais”

Instagram: @bortolottogiulia

Redação

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