Mal acabou Kona 2019 e já tem gente com a cabeça em 2020. Lívia Bustamante tem 37 anos e é umas das primeiras brasileiras já classificadas para o Mundial de Ironman do ano que vem. Ela conquistou sua vaga em setembro, quando venceu a categoria 35/39 anos no duro e frio Ironman Wales, no País de Gales. Conheça mais sobre essa nutricionista e experiente triatleta que já tem provas de Ironman e Ultraman no currículo.
Como foi sua vida esportiva até conhecer o triathlon, que já faz há 15 anos?
Eu comecei a treinar triathon em 2004 num programa de treinamento dentro da Unicamp, onde eu era aluna na época, como uma forma de fazer algo diferente das aulas de academia que eu já fazia. Eu tinha 22 anos na época é ia pedalando pra faculdade diariamente, tinha aprendido a nadar na infância, e nunca tinha corrido na vida… ou seja, não vim de nenhum esporte anterior, eu praticamente comecei do zero.
Qual foi sua primeira prova de triathlon e que recordações traz dela?
Minha primeira prova foi um short triathon em Porto Ferreira, no interior de São Paulo, onde fui com o pessoal da Unicamp. Eu lembro pouco da prova… apenas que perdi meu óculos de natação na entrada da segunda volta no lago, que pedalar de MTB foi uma vantagem porque o asfalto era bem ruim, e que meu pé terminou sangrando depois dos 5km da corrida… Foi uma estreia meio desastrada, mas ganhei minha categoria na época.
Você já fez 15 provas de Ironman e três de Ultraman? Quais as que guarda as melhores lembranças e por quê?
Meu primeiro UB 515 foi muito surreal, porque eu não sabia o que me esperava… Foi uma emoção muito grande e por isso entrou pra lista das inesquecíveis. Meu primeiro Ironman também foi muito importante, mas dentre as provas de Ironman eu fico com aquelas que me levaram a Kona (Nice 2013, Fortaleza 2015/16 e Wales este ano), além das das provas no Hawaii também, principalmente a primeira! Estar em Kona pela primeira vez depois de anos “batendo na trave” da vaga foi um marco na minha história esportiva, principalmente porque 11 meses antes eu tinha operado uma lesão labral no quadril.
Onde sofre mais? Num Ultraman, onde o ritmo é mais cadenciado ao longo de três dias, ou num Ironman feito “na pressão”, com objetivo de vaga para Kona?
São coisas muito diferentes. Quando estou num Ultraman minha ideia é apenas completar, nunca entrei num pensando em ganhar ou fazer uma grande performance. É você contra seu corpo e cabeça apenas, e pra mim é a melhor forma de se relacionar com o esporte. Já quando entro numa prova com o foco em conseguir vaga pra Kona, muitas vezes fazer o meu melhor não é suficiente… Tenho que fazer minha melhor prova e ainda tentar controlar as outras meninas da faixa etária. É muita pressão, e eu me cobro demais! Então certamente eu sofro mais num Ironman do que no Ultraman.
Como foi a preparação para a o Ironman Wales? Fez algo de diferente e relação a outros ciclos de treinos que já havia feito para Ironman full?
Não estava tendo um ano bom no primeiro semestre, então conversei com meu técnico Marcelo Ortiz sobre alguns aspectos fisiológicos que eu acreditava que podiam me favorecer, baseado nas minhas observações destes 15 anos. Reparei que meu corpo reage melhor a grandes volumes de treinamento, então alinhamos essa ideia aos treinos que foram muito bem elaborados por ele e, chegamos a volumes próximos aos que eu fazia para os “Ultramans”. Foi bem difícil voltar a treinar tantas horas, principalmente nos fins de semana, mas no final valeu a pena e eu posso dizer que o sucesso se deve principalmente à essa ótima relação que eu e o Ortiz estabelecemos: ele ouve minhas observações, discutimos a viabilidade do treino e o resultado veio! Acho que esta troca com o treinador foi fundamental pro sucesso neste ciclo.
A prova de Wales é bem dura. Como foi?
A natação foi, como de costume, a pior parte. A água bastante fria me deixa um pouco “letárgica”, eu não conseguia navegar bem, não conseguia fazer força, apenas queria que acabasse logo, mas demorou 1h12 pra eu conseguir sair dali. A T1 de Wales tem quase 2km, boa parte correndo em subida, então já dá pra aquecer… fui colocando roupas no caminho porque no ciclismo eu prefiro passar calor do que frio. O pedal foi incrível, muito próximo ao tipo de treino que tenho aqui em Teresópolis: um rolling hills bem pesado, com ganho total de 2300m. Como eu treino muito este tipo de percurso, consegui já sair pra correr liderando a categoria. A corrida lá também tem muitas subidas, algumas bem fortes até, e um bom ganho de altimetria. Nas descidas dói tudo (são quatro voltas iguais), mas consegui fazer meu melhor tempo de maratona em Ironman no pior percurso que já fiz! Eu realmente estava muito bem treinada pra conseguir isso! Terminei sem saber minha colocação, mas com a certeza de que tinha feito a minha melhor prova em muitos anos.
Que volume semanal faz das três modalidades e quantas vezes treina as mesmas, para uma prova de Ironman?
Não sei precisar meu volume semanal pois não sou muito ligada em dados. Isso eu deixo pro Ortiz cuidar pra mim… Mas com certeza este ciclo teve um volume bem grande. Já em relação às modalidades, eu nado 3x, pedalo 3 ou 4x e corro 3 ou 4x por semana. Isso varia um pouco semana a semana, mas basicamente é isso. E sim, eu faço um dia todo off pq depois dos 35 anos eu demoro mais pra me recuperar.
Como é essa logística e divisão com o trabalho de nutricionista?
Conciliar treino e trabalho é um desafio pra todos os atletas amadores e pra mim também. Mas como já disse, o Marcelo Ortiz monta meus treinos que eu encaixo no meio dos meus atendimentos conforme minha agenda da semana. Como moro numa cidade pequena, consigo sair pra treinar em qualquer intervalo que tenho, em qualquer horário do dia… e isso certamente facilita muito a minha rotina.
O que tem de provas já programadas para o ano que vem?
Ano que vem só tenho kona já programado… rs. Mas talvez eu volte a fazer o Ironman Brasil Florianópolis depois de nove anos, ainda não sei… e alguns IM70.3 pelo caminho. Ainda sem programação certa, mas aceitando convites!
Qual seu objetivo maior dentro do triathlon, em termos de competição?
Olha, eu hoje não sei responder essa pergunta. Tenho algumas provas na minha lista de sonhos… E talvez um podium em kona! Nem que seja na categoria 80+! Os objetivos vão mudando ao longo dos anos… então, daqui uns cinco anos a resposta pode ser outra…
Que dicas pode dar para um amador que tem aspirações nas ultradistância, como o Ultraman?
Apenas faça! É uma experiência única onde seu “adversário” é você mesmo e mais ninguém. É um encontro com a essência do esporte, sem disputas de egos e pressões por performance. Pelo menos essa foi a minha experiência… pra outros pode ter sido diferente. Eu fui fazer Ultraman pra reencontrar minha essência como atleta e nesse sentido foi uma lição de vida pra mim. Espero que todos possam encontrar o que procuram ao se desafiar em ultradistâncias.
Quero fazer um agradecimento especial ao meu treinador Marcelo Ortiz e a toda a equipe BR Esportes que é como uma família pra mim. Quero também agradecer muito a Probiótica, que é minha patrocinadora e me deu todo o suporte nutricional necessário para o sucesso que tem sido meu ano de 2019, e a todos os atletas do Probiótica squad pelo apoio e torcida.
BIO
Nome: Lívia Bustamante da Rocha Mendes
Idade: 37
Tempo de triathlon: 15 anos
Altura: 1,60
Peso: 53
Roupa de borracha: Roka
Óculos de natação: Zoogs
Bike: Specialized Shiv (a mesma desde 2013, precisando de outra…)
Capacete: Rudy
Sapatilha: bontrager
Tênis de corrida treino: Asics
Tênis de corrida competição: Asics DS trainner 24
Óculos de sol: Oakley
Equipe: BR Esportes
Patrocínio/Apoio: Probiótica