A história do triathlon no Amazonas
Hoje, o triathlon no Amazonas é grande, rende os frutos das sementes plantadas muitos anos atrás. E eu convido você para fazer uma viagem no tempo e conhecer um pouco dessa história.
Voltando mais de trinta anos no tempo, pode-se afirmar que o primeiro triathlon do Estado aconteceu na Praia Dourada no início dos anos 1980, mas não há registros oficiais, e poucos se lembram dessa competição. Gil Machado Jr., até então nadador e ciclista, participou dessa prova, e anos depois, também esteve presente numa das primeiras provas de triathlon do RJ. Quando voltou do Rio, montou uma equipe para treinar triathlon, antes mesmo de serem realizados outros eventos do esporte em Manaus.
Anos e anos passando, até que viemos parar em 1990, quando Davi Rubim realiza um dos primeiros triathlons do Amazonas. E começa a prova no Nacional clube… Depois de pedalar e correr por vários bairros da cidade, o maratonista Doval Carneiro obtém a vitória!
Meses antes, aconteceu também o Triathlon de la Selva, que atravessava três países: Peru, Colômbia e Brasil. A parte brasileira da prova passava por Tabatinga, interior do Amazonas. Participou dessa competição o triatleta amazonense Márcio Soares, que depois seria um dos grandes motivadores do triathlon amazonense.
No ano seguinte, em setembro, lá estamos nós, vendo a realização do “Triathlon da Independência”, com largada e chegada no recém-inaugurado Amazonas Shopping, o primeiro de Manaus. Essa competição foi feita por Manasseh Barbosa e Maurício Tadros. O vencedor foi Wietse Van Rij.
Passando pelos anos de 1991 a 1994 rapidamente com nossa máquina do tempo, vimos várias provas serem realizadas por alguns dos precursores do triathlon, Manasseh e Maurício; e, paralelamente, Márcio Soares também realiza competições. São provas feitas com poucos recursos, número pequeno de atletas, e com largadas feitas cada vez em um ponto da cidade. Eram vários os competidores vindos das academias de jiu-jítsu e, também, do remo; daí havia categorias só para eles!
O crescimento e, depois, a estagnação
Com o apoio do empresário Ivan Salmito, da empresa Casa da laranja, Márcio e amigos estão conseguindo aos poucos fazer o triathlon crescer, e o pequeno grupo de organizadores compra materiais como cavaletes, para a utilização nas competições. Entre esses apaixonados por triathlon do grupo de Márcio também está Antônio Carlos Nascimento que ajuda na divulgação dos eventos, e Jefferson Mascarenhas que, por ser nadador reconhecido a nível nacional e simpatizar bastante com o triathlon, realiza e participa das provas e, como os outros, ajuda na propagação e no avanço do triathlon no Estado.
Gente, estamos vendo que neste ano ainda não há federação no Estado que seja afiliada à recém-criada CBTri, mas existe informalmente a Federação Amazonense de Triathlon de Manasseh, e também a ASTRAM (Associação de triathlon do Amazonas) de Márcio e cia. Assim, a organização das provas de triathlon está dividida: cada grupo realiza os seus próprios eventos.
Ficamos pasmos de ver quantos atletas de destaque estão surgindo nesses primeiros anos de triathlon no Amazonas, entre eles: Ítalo Gama, Jean Santos, Doval Carneiro, além dos próprios organizadores e atletas, Márcio Soares e Jefferson Mascarenhas. Claro que se destacavam, afinal, eles já eram campeões de natação e, outros, de corrida.
Nossa! Viemos ver um dos primeiros triathlons que aconteceram na Ponta Negra, e há apenas 20 ou 30 atletas participando da prova. Na próxima, o número vai aumentar, com as competições mais curtas e com os revezamentos, com certeza. Nessa fase, os jovens atletas Mateus Costa e Fábio Honda já faziam boas disputas nas provas. Eles até hoje são triatletas.
A viagem agora é para o ano de 1995, e vejam: o grande destaque da primeira prova do ano foi Carlos Alberto Dinelly. Ele e outros atletas de Maués, interior do Estado, estão sempre vindo a Manaus competir e ficam na casa de Mascarenhas, hospedados com outros atletas. Incrível como vários talentos surgiram de Maués. Algumas provas até foram realizadas na cidade, a 259km da capital.
A máquina do tempo nos trouxe até 1996. Márcio, Dinelly, Ivan Salmito, Wietse Van Rij, Yussef Abrahim e Gensys vão nos representar no Ironman de Porto Seguro. E eles foram muito bem! Dinelly se classificou para o Havaí! E já até sei que ele esteve lá no ano seguinte também. É até hoje o único triatleta do Amazonas a ter participado do Ironman do Havaí, e com louvor!
Estamos passando pelo anos seguintes nessa viagem pelo tempo, mas nada de novo surge no triathlon, até que… Jefferson Mascarenhas assumiu a federação (que ainda não é afiliada da CBTri), e ele e seus amigos estão realizando vários duathlons aquáticos e triathlons entre esses anos de 2000 e 2003. Essas provas atraíram muitos atletas da natação e do atletismo (eu mesma adorava participar). Atraíram também os rapazes de Maués, novamente. Valdecy Soares, Frankney Lopes e Diego Soares são destaques da cidade, que até hoje figuram no triathlon.
Apesar das várias provas que Mascarenhas fazia, o apoio para o avanço do triathlon era mínimo, então, após alguns anos, o esporte foi perdendo força e ficou parado.
O renascimento do triathlon e a criação da Fetriam
Havia um bom tempo sem progresso, até que as provas e o renascimento do triathlon no Amazonas começam a acontecer. Estamos em 2007, e agora já podemos ver uma nova fase nesta história. Mais uma vez, Márcio Soares e seus antigos e novos amigos começam a realizar provas novamente. Dessa vez, o “Amazon Triathlon”, com três etapas na distância sprint realizadas neste ano. Caramba, a cada prova, mais atletas (eu entrei para o triathlon nesta fase). E essa competição com o apoio da Iberostar? Muito interessante o congresso técnico ser dentro de um cruzeiro. E o percurso da natação ao redor dele? Demais!
O triathlon no Estado começou a crescer novamente, há atletas de elite, e uma Federação precisa ser criada, de qualquer jeito! Agora que já estamos em 2009, vejam só, o pai dos triatletas campeões Jefferson e Jeremias, Sr. Adalberto Santos toma a iniciativa de criar a Fetriam, com o apoio de Valdeci Guedes. A federação realiza várias provas durante o ano, em Manaus, mesmo com pouco apoio. Essas competições são feitas de forma bem simples, mas, ainda assim, em 2010, a Fetriam realiza uma etapa da Copa Brasil de Triathlon.
E com o apoio da Prefeitura, foi realizado pela X3M o conhecido XTERRA, por três anos seguidos. E andam dizendo que não há lugar melhor do que a selva amazônica para fazer um cross triathlon.
O triathlon precisa continuar avançando. Assim, viemos parar em 2012, e agora a Fetriam passa a ser presidida por Antônio Neto, e seu vice-presidente, Márcio Soares; além deles, Dalton Cabral e Airton Azevedo também têm dado apoio. Agora, a federação cresce e realiza competições de qualidade, com o empenho das pessoas envolvidas, e com o apoio da prefeitura, do governo do Estado e, também, de empresários (sendo vários deles triatletas). Além de Márcio e Airton, vários daqueles triatletas que já estavam no esporte nos anos 1990, permanecem, sejam como atletas, sejam como colaboradores.
O triathlon cresceu e apareceu. Entre as provas importantes realizadas na cidade está o XTERRA, a Copa Brasil de Triathlon, o Campeonato brasileiro de Aquathlon e o de Duathlon também, além do Sesc Triathlon. Além dessas, provas como a ITU Pan American Cup de Triathlon e a etapa do Mundial de Paratriathon, com a participação de atletas de várias partes do mundo, também já aconteceram em Manaus.
Os projetos
Em 2012 mesmo, a Fetriam criou o projeto triathlon social, que com o apoio do Batalhão de Operações Ribeirinhas, contribui para a inserção de crianças no esporte. O projeto existe até hoje e, além dele, outros projetos (na UFAM e, recentemente, na UEA) também funcionam com aulas de triathlon para crianças.
Além do projeto “Triathlon social”, a Fetriam também oferece cursos de árbitros e técnicos de triathlon. A arbitragem no Amazonas já é reconhecida internacionalmente com quatro árbitros pertencentes a ITU, os quais possivelmente estarão nas olimpíadas, são eles: Sérgio Fonseca, Helen Saraiva, Airton Azevedo e Jerlane Gomez.
A tendência é que haja cada vez mais triatletas, com os projetos da equipe Márcio Soares Sports: “Meu primeiro triathlon” e também “Triathlon na floresta”, em parceria com a UEA. Quase 50 triatletas iniciaram no esporte e continuam em atividade graças ao “Meu primeiro triathlon” – eles treinaram durante dois meses e depois fecharam o projeto participando de uma competição. Já o projeto “Triathlon na floresta” tem como foco oferecer aulas de triathlon para crianças de baixa renda, que tenham entre 12 a 15 anos, e sejam selecionadas após teste. O projeto já está em vários municípios do Estado, e a ideia é que seja ampliado a cada ano.
Desde essa virada no triathlon do Amazonas, o número de triatletas no Estado cresceu bastante e dobrou em 2013. Antes eram 20, 30, depois 70 triatletas, e hoje são, em média, 200 os participantes das provas locais. Se antes havia apenas uma equipe de triathlon, hoje são várias. E, se antes todos se conheciam no ambiente do triathlon, hoje isso já é difícil de acontecer, pois a cada dia surgem novos triatletas no Amazonas.
Os triatletas em destaque e o futuro do triathlon no Amazonas
São muitos os triatletas que viajam para competir também em outros estados e países, e cresce a cada ano o número de atletas amazonenses no Mundial de Triathlon da ITU. Entre os destaques do Estado estão Diego Soares, Vanderlandes, Ícaro Melo, e, no feminino, eu mesma, Jéssica Santos, com muita dedicação, já fui duas vezes campeã mundial de Aquathlon, na faixa etária e vice-campeã na “elite”(categoria em que sigo, para sempre competir com as melhores); destacam-se, também, Hannáh Mota e Yuri Sasai. E no triathlon infantil, Fernanda Sasai, Eduarda Flores e Hannah Greice já dão orgulho para o pais.
Entre esses destaques do Amazonas, também estão os reis das longas distâncias: Fabrício Lima, que já completou o Ironman mais de dez vezes; Leandro Moreira, que tem se destacado como melhor do Estado nos últimos tempos, fazendo Ironman sub-10 horas; e Márcio Soares, que completou o desafio do Ultraman, além de tudo. Os amazonenses adoram os grandes desafios!
É legal ver como as pessoas aderiram ao esporte, e os triatletas aos poucos vão garantindo seu espaço. Para o triathlon crescer, o apoio financeiro, do Estado e Município, além do apoio dos empresários, foi fundamental e alavancou o esporte. Que continue assim.
Já estamos quase de volta ao nosso tempo. O bacana é ver que em 2014 tivemos até prova de Pan-Americano da ITU por aqui. E em 2015? Caramba! As crianças tiveram provas só para elas. Prova do Sesc triathlon em Manaus, também? Que ótimo.
Agora, de volta a 2016, não podemos viajar para o futuro para ver, mas a expectativa de avanço do Triathlon amazonense é grande, pois já está marcada para o dia 20 de março a edição do Challenge Amazônia. Assim, o Estado entra de vez no circuito das principais provas de triathlon do Brasil, e agora com uma competição de longa distância. Obrigada pela companhia nesse passeio histórico, e vamos seguir fazendo tudo pelo triathlon.
Jéssica Santos é jornalista e triatleta profissional