Tenho colhido os frutos de uma aposta que fiz (e renovo regularmente) logo que comecei no triathlon: investimento em técnica, na água, na bike, na pista. Acredito que foi a busca incansável por uma melhor técnica a responsável por eu alcançar patamares mais altos na modalidade.
Grande parte dos meus resultados se deve a importância e ao tempo investido na construção de habilidades, e não apenas treinar por treinar, cumprindo distâncias de maneira automática.
Logo que comecei no esporte, há mais de 15 anos, eu percebia que era preciso uma grande quantidade de energia para superar inabilidades. Minha natação, por exemplo, era muito ruim e, por muito tempo, tive que nadar na última raia, grudado na parede. Isso me desmotivou? Não. Ao contrário.
Levei no mínimo uns três anos para poder nadar perto da raia 4, a central, onde ficam os atletas mais rápidos. Enquanto isso, eles me inspiravam. Durante esse tempo, o que mais treinei foi a técnica e as habilidades básicas, a repetição de exercícios, aprendendo a me concentrar nos mínimos detalhes da braçada.
Normalmente, é natural pensarmos que a aptidão cardiovascular deve vir na frente da técnica, mas isso é um equívoco, já que fazendo o gesto errado gastamos muito mais energia. Incorporar a mecânica ideal em cada esporte se traduz em eficiência, ou seja, se faz mais com menos e, aprimorando nossa
consciência corporal, são grandes as chances de evitar lesões bobas.
Portanto, se me permite um conselho: não deixe técnica em segundo ou terceiro plano. Treinar o cardiovascular é o mais fácil, é o esperado e é o que todo mundo está fazendo. Paciência e disposição para treinar técnica e habilidade são para poucos. Como diria Joel Friel, uma das maiores referência no treinamento esportivo: “habilidade é o verdadeiro coração e a alma de qualquer esporte”.
Notamos também, entre triatletas, que a preocupação com a técnica é maior na natação – talvez porque seja o esporte “menos natural” dos 3 praticados no triathlon. Mas o fato é que a mesma dedicação técnica de braçadas, pernadas, viradas e deslize deve ser levada para o ciclismo e para a corrida. Eu não deixo de treiná-la em nenhum dos esportes.
Um grande diferencial é colocar a sua consciência no movimento, tendo total controle no que se está fazendo. Cada vez que saio para treinar penso se o braço está correto e alinhado, se estou finalizando a braçada, se estou empurrando os pedais, se estou correndo com a pisada certa, enfim, coloque a sua atenção no movimento e exercite o seu pensamento, foco e concentração. Fazer exercícios por si só pode não ter o mesmo efeito se você não fizer isso com o máximo da sua atenção e sensibilidade. Esteja focado nos mínimos detalhes. Depois de 15 anos continuo fazendo educativos, técnicas e, mais do que nunca, tão atento como se estivesse começando no esporte. Antes de aumentar o seu volume de treino, pense no mais simples e no fácil. Talvez esteja escondido lá nas habilidades o
resultado que você tanto busca.
Treine a sua economia assim como você treina a sua capacidade aeróbia (Vo2máx) e o seu limiar anaeróbio (lactato). Para eventos muitos longos como maratonas, ironman e audax, a economia pode ser ainda mais crítica que as outras duas capacidades. Converse com o seu treinador
e discuta com ele o que pode ser feito para melhorar a sua técnica e deixá-lo mais econômico. Essa é uma possibilidade real e simples, para qualquer modalidade esportiva!