Lições da Rio 2016 que te ajudarão a competir melhor

Assistimos na prova feminina de triathlon das Olimpíadas Rio 2016 uma disputa muito acirrada entre a campeã olímpica de Londres 2012, a suíça Nicola Spirig e a atual bicampeã mundial, a americana Gwen Jorgensen. O resultado final foi uma reprise do que aconteceu no evento-teste em 2015, com a americana conquistando a primeira medalha de ouro na modalidade para seu país.

Neste artigo, listo três lições dadas pelos profissionais que pudemos perceber na prova e que podem ser usadas pelo triatleta amador, afim de melhorar sua performance nos eventos que pretenda participar.

• Aprenda a lidar com a pressão
Gwen Jorgensen era, sem dúvida, a favorita para vencer devido à soberania imposta por ela nos dois últimos anos no circuito mundial. Porém, desde a prova de Londres, onde teve um pneu furado, que acabou tirando-a da disputa pelo pódio, ela não teve nenhum confronto direto com Nicola, que é uma exímia ciclista e fez uma preparação pouco ortodoxa, focando em provas longas para fortalecer ainda mais seu bike split. Devido à dura altimetria do percurso no Rio muitos davam essa etapa como o ponto fraco da americana e a única forma de Spirig superá-la. Essa crença aumentou quando nas etapas da WTS em Gold Coast e em Hamburgo, Gwen foi superada pela britânica Helen Jenkins e por sua compatriota Katie Zaferes, respectivamente quando ela não conseguiu se manter no primeiro pelotão na etapa de ciclismo. Jorgensen se manteve fiel ao seu planejamento de treinos e a sua estratégia do início ao fim da prova ignorando a pressão e fazendo seu trabalho, como sempre, da melhor forma.

Atletas amadores muitas vezes se sentem pressionados por bons resultados em suas principais provas da temporada, e é comum vermos muitos ignorando suas planilhas de treino por achar que devem fazer algumas sessões específicas para alcançar uma performance superior, ou mesmo durante as provas acabam esquecendo sua estratégia e seguindo algum outro atleta por acreditar que aquele ritmo mais forte será benéfico e o levará com maior brevidade à linha de chegada. Essa é a primeira grande lição que tiramos: ignore a pressão e siga seu plano! Acreditar no que estamos fazendo é mais importante do que o quê, efetivamente, estamos fazendo.

• Use as regras a seu favor
Foi nítido que a americana procurou se manter “escondida” dentro do pelotão durante toda a etapa de ciclismo, se poupando ao máximo e guardando sua principal arma para a derradeira etapa da disputa. Muitos não concordam com essa atitude e chegam a dizer que é covardia, pois se privam do trabalho duro e acabam se beneficiando do desgaste dos outros atletas para vencer. Mas é importante entendermos que regras são regras e que cada atleta deve ter sua estratégia levando em consideração seus pontos fortes e fracos. Quando se está em jogo, uma medalha olímpica, um lugar no pódio, uma vaga para o mundial ou seu recorde pessoal não há nada de errado em usar as regras a seu favor.

Trazendo essa lição para a realidade dos atletas amadores, podemos dizer que nadar na esteira, seguir um grupo no ciclismo mantendo a distância permitida e usar algum outro atleta como “pacer”, podem ser ótimas opções ao invés de se manter completamente isolado fazendo sua prova. O ponto aqui é estar preparado para sustentar o ritmo de cada grupo, seja na natação, no ciclismo ou na corrida. Nunca siga um grupo com ritmo mais forte do que o ritmo que você treinou e está habituado! Ou você acha que a Gwen não estava preparada para enfrentar as subidas da prova carioca juntamente com as melhores ciclistas do circuito?

• Tenha atitude diante das dificuldades
Um dos fatos mais emocionantes e inspiradores da prova foi como a suíça Spirig competiu, se mantendo no primeiro pack da natação, puxando o pelotão de ciclismo, praticamente sozinha, atacando por várias vezes tentando abrir vantagem e correndo lado a lado com a melhor corredora do circuito e buscando a vitória até os últimos 2km. Talvez Nicola soubesse que seria praticamente impossível superar Gwen, não só pelo fato da americana ser mais veloz, mas também por entender que as regras estavam favoráveis à estratégia da adversária, no entanto, como uma grande campeã, ela usou seus pontos fortes, mostrou atitude e competiu no seu limite ficando muito feliz e satisfeita com seu resultado, mesmo tendo sido derrotada.

Também é comum vermos atletas terem problemas durante a prova, seja de ordem mecânica, logística ou física que acabam tendo um impacto muito maior do que deveriam pois os atletas literalmente “entregam os pontos” por perceber que não alcançarão a performance desejada. Essa é a terceira lição que podemos tirar da prova do último sábado: quando as coisas ficam difíceis, não devemos desistir, pois acabaremos frustrados. Devemos ter coragem, usar nossos pontos fortes e procurar fazer o melhor possível dentro a realidade imposta para que possamos nos sentir bem e satisfeitos com o resultado que iremos alcançar por saber que cada gota de suor foi extraída do melhor que nós tínhamos naquele momento.

Concluindo, siga sempre seu plano para se manter mais relaxado e seguro, use tudo que for regulamentar para lhe ajudar a atingir seus objetivos e quando os problemas aparecerem minimize-os com uma atitude positiva e fazendo o que você sabe fazer de melhor. Isso serve para o triathlon, isso serve para a vida!

Rodrigo Tosta é técnico de triathlon

Redação

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