Embora envelhecer seja inevitável, é importante que o treinamento seja adaptado ao corpo em transformação da mulher
Por Roger de Moraes
Em contato com o oxigênio, toda matéria orgânica oxida. Em células aeróbicas, o oxigênio é reduzido no interior das mitocôndrias para subsidiar o processo de geração de energia mas também se encontra envolvido no sequestro de elétrons de estruturas e componentes destas células. Reconhecidamente vital e ao mesmo tempo letal, o oxigênio participa da formação metabólica de espécies reativas de oxigênio (ROS) que possuem potencial para oxidar mitocôndrias, proteínas e membranas. A vida só é possível graças à presença de antioxidantes que uma vez sintetizados pela própria célula, neutralizam os ROS antes que provoquem danos irreversíveis na célula.
Alguns hábitos como tabagismo e sedentarismo podem contribuir para aumentar o estresse oxidativo, condição que representa o desequilíbrio entre as forças oxidantes e antioxidantes com predomínio das primeiras sobre as últimas. Neste contexto, são muitas as evidências de que a prática regular de atividades físicas em intensidade moderada poderia contribuir para aumentar a reserva antioxidante e reduzir os danos promovidos pela ação de moléculas oxidantes. Mas o que dizer sobre o treinamento do corpo para melhoria do rendimento em provas longas do Triathlon?
A adequada assimilação das cargas de treinamento e o desenvolvimento das qualidades físicas que são necessários para melhoria do rendimento neste esporte, dependem de programação racional, individual e cientificamente fundamentada que seja capaz de assegurar a supercompensação dos estímulos estressores inerentes às sessões de exercício. Em grande medida, tal situação decorre da capacidade celular de ativar a expressão de genes e sintetizar algumas proteínas que aprimoram a função aeróbica e outras que neutralizam a ação deletéria dos ROS em processo que depende da intermitência entre descanso e esforço e que quando fracassa contribui diretamente para o “overtraining”.
Também o declínio das funções do organismo humano que é observado com o envelhecimento, parece associado com o aumento do estresse oxidativo. Entre mulheres, já foi sugerido que ocorrem reduções significativas na expressão de enzimas antioxidantes na medida em que os ovários declinam a produção de estrogênio. Este fenômeno singular na espécie humana é conhecido como menopausa e começa a ocorrer a partir dos 45-55 anos da vida da mulher, representando período inicialmente caracterizado por alterações no ciclo menstrual e comprometimento da potência aeróbica.
De fato, os sintomas da menopausa refletem dificuldades para triatleta completar certas sessões de treinamento e representa período aonde também começam a surgir mudanças na qualidade do sono e as estranhas “ondas de calor”. A pele também pode ficar mais seca, facilmente irritada e muitos consideram a suplementação hormonal como possibilidade apesar dos riscos reais da formação de tumores. Neste contexto, sabe-se que durante a menopausa a produção ovariana de estrogênio diminui significativamente e além de comprometer a saúde óssea, cardiovascular e mental da mulher, também interfere negativamente na expressão das enzimas antioxidantes.
Apesar disso, parece importante manter a regularidade do treinamento neste período. Alguns autores consideram necessário reduzir o volume e realizar sessões mais curtas e combinadas com treinamento de força a fim de atenuar o declínio da massa muscular que também tende a ocorrer na menopausa. A esse respeito já foi sugerido que triatletas nesta fase da vida, deveriam aumentar o consumo de proteínas assegurando a ingesta de cerca de 40g após cada sessão de treinamento. Também deveriam evitar o volume desnecessário de treinamento e usar a experiência para ouvir os sinais de fadiga do próprio corpo.
Embora envelhecer seja inevitável e até desejável já que representa maior tempo de permanência na vida, é importante que o treinamento seja adaptado ao corpo em transformação da mulher. Neste aspecto, deve-se manter especial atenção ao estresse oxidativo proporcionado em cada sessão e que pode ser tolerado com a mudança nas perspectivas do rendimento. Na opinião da triatleta holandesa de 43 anos, Yvonne van Vlerken, que abandonou sua carreira profissional em 2019 depois de estabelecer sucessivos recordes na distância do Ironman, a deterioração do rendimento na menopausa é inevitável mas poderia ser amenizado através de descanso adicional, treinamento inteligente, eliminação das cobranças e dos excessos e também através do uso de adaptógenos como Aswaganda, Maca e Schisandra que ela como treinadora e terapeuta recomenda para seus alunos.
Roger de Moraes – @demoraesroger
Ex-triatleta Profissional, Professor de Fisiologia Geral
Doutor em Ciências com Pós-Doutorado no Laboratório de Investigação Cardiovascular do Instituto Oswaldo Cruz – Fundação Oswaldo Cruz