“Morel-Lavallé”: Entenda o que tirou Frodeno de Kona

Este tipo de lesão costuma ser mal diagnosticada como um simples hematoma, sendo observado em ciclistas que caem durante treinos e competições

Por Roger de Moraes

Embora saibamos que o amanhã não possa ser antecipado, frequentemente acreditamos conhecer os riscos envolvidos em determinadas atividades. Pedalar é emocionante e inspirador e quando nos levantamos depois de uma queda em alta velocidade, costumamos ficar satisfeitos por constatar que nenhum osso se quebrou. Mas a vida é cheia de surpresas.

Embora arranhões e hematomas costumem ser bem tolerados pelo atleta impetuoso e determinado, no início da semana passada Jan Frodeno declinou sua participação no Mundial de Ironman depois de desenvolver lesão atípica decorrente de trauma associado à uma queda de sua bicicleta.

Mas que tipo de lesão foi essa que afastou o alemão que já venceu três vezes aquela competição em Kona? Denominada “Morel-Lavallé”, trata-se de lesão fechada que ocorre em região subcutânea devido à ruptura de capilares e que concentra a linfa e os tecidos necrosados. Decorre da separação da pele e de tecidos subcutâneos gordurosos que abruptamente se desconectam da fáscia profunda que sustenta tais estruturas. Se não for adequadamente diagnosticado, algo que atualmente é possível através de imagens de ressonância magnética, tende a evoluir para infecção e extensiva necrose da pele.

Este tipo de lesão costuma ser mal diagnosticada como um simples hematoma sendo observado em vítimas de acidentes automobilísticos e também, em ciclistas que caem durante treinos e competições. É uma condição que se denomina “fechada” pois a pele não precisa ter escoriações e simplesmente a desconexão das camadas de tecidos é capaz de resultar em necrose seguida de infecção que exige intervenção cirúrgica se o tratamento conservador não solucionar. Embora rara, este tipo de lesão tem aumentado em face ao aumento da popularidade do ciclismo e do triathlon e tende a ser pouco conhecida entre profissionais da saúde.

Roger de Moraes – @demoraesroger
Ex-triatleta Profissional, Professor de Fisiologia Geral
Doutor em Ciências com Pós-Doutorado no Laboratório de Investigação Cardiovascular do Instituto Oswaldo Cruz – Fundação Oswaldo Cruz

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