Nade sem se lesionar

Por Mario Roberto Guagliardi Jr

A natação é um dos esportes mais praticados no Brasil e no mundo, e indicado muitas vezes por profissionais da área de saúde como um dos exercícios mais completos tanto para ambos os sexos quanto para qualquer idade, com mínimas restrições e contraindicações. No treinamento multisport a natação sempre faz parte, e o uso de exercícios de flexibilidade e alongamento têm a finalidade de impedir e minimizar a ocorrência de lesões.

Os animais aquáticos mostraram aos homens que era possível mover-se na água, sem submergir. Eles aprenderam a lição de tal forma que na Grécia e em Roma, a natação foi adotada como exercício para treinamento de soldados. Como esporte, a natação foi prejudicada, durante muito tempo, pela crença de que ajudava a disseminar epidemias.

Hoje, com o aumento da procura das pessoas por uma melhor qualidade de vida e com a rapidez dos avanços científicos, a Educação Física se tornou um campo com respaldo muito grande e dentro dele a natação se encontra como uma das suas áreas de maior abrangência.

FLEXIBILIDADE E SAÚDE
Embora as exigências de bons níveis de flexibilidade em relação à saúde sejam largamente descritas, ainda não se conseguiu esclarecer de forma científica, quanto de flexibilidade seria necessário para o ser humano. O que se sabe é que existe a necessidade de níveis mínimos de flexibilidade, quer seja como forma de prevenção contra determinadas patologias, ou para um melhor desempenho atlético.

Alguns valores referenciais adotados na avaliação da flexibilidade de adultos podem ser encontrados em estudos do reconhecido autor Pollock, contudo a aplicação destes indicadores referenciais parece ser bastante limitada, quando da sua aplicação em populações que apresentam características distintas daquelas que a originou. Outra limitação desses indicadores referenciais, diz respeito à necessidade de considerar o nível de flexibilidade em cada articulação, tendo em vista que as realizações das tarefas do cotidiano apresentam exigências diversificadas quanto a esse aspecto, sendo a assim, esses valores referenciais podem deturpar o julgamento efetuado em termos de avaliação da aptidão física e prescrição de exercícios.

Se por um lado ainda não se conseguiu determinar o nível de flexibilidade considerado ideal, por outro e consensual entre diversos autores, que valores extremos de flexibilidade (hiperflexibilidade) podem promover uma instabilidade articular e quando combinados a movimentos repetitivos e de rotação podem promover significativas disfunções no sistema músculo-articular.

A manutenção de bons níveis de flexibilidade nas principais articulações tem sido comumente associada a:
1) maior resistência as lesões;
2) menor propensão quanto a incidência de dores musculares, principalmente na região dorsal e lombar;
3) prevenção contra problemas posturais.

QUANTO E QUANDO
Acredita-se que a manutenção e o desenvolvimento dos níveis de flexibilidade possam ser obtidos através de exercícios de alongamento, independente da determinação genética e do nível de flexibilidade inicial; estes exercícios exercem influência sobre a estrutura e a composição bioquímica dos tecidos conectivos, mantendo ou elevando a sua capacidade de extensibilidade, por esse motivo, tem sido apontados como os exercícios específicos mais indicados com relação a essa finalidade de desenvolvimento da flexibilidade.

No treinamento da flexibilidade, tem-se utilizado os métodos estático, dinâmico e de facilitação neuro-proprioceptivo (FNP), também conhecido como método 3s. Esses três métodos têm demonstrado eficácia no desenvolvimento da flexibilidade, cada um apresentando vantagens e desvantagens.

Mesmo com a certeza da importância da flexibilidade em termos de aptidão física relacionada à saúde, os exercícios de alongamento ainda têm sido prescritos de forma bastante empírica; percebe-se que ainda existe uma grande lacuna a ser preenchida em relação à prescrição de exercícios de alongamento, principalmente na determinação da frequência e duração com que devem ser prescrito, por outro lado, parece ser consensual entre os autores que a intensidade adequada deverá produzir um mínimo de desconforto em relação à dor muscular.

Na estruturação de um programa de flexibilidade devem ser observados alguns aspectos:
a) orientar o usuário para realizar o alongamento de forma lenta e progressiva, sem movimentos bruscos;
b) deve-se manter a posição de alongamento por um determinado tempo, para que os benefícios sejam obtidos;
c) orientar para a manutenção da postura corporal correta;
d) estabelecer uma sequência a ser seguida durante a realização dos exercícios.

Outra questão bastante polêmica, diz respeito ao momento certo para realização desses exercícios. Alguns autores têm defendido que os mesmos possam ser executados durante as fases de aquecimento e de volta à calma. Existem algumas evidências de que a sua realização após exercícios de alta intensidade ou exercícios com pesos de caráter excêntrico têm apresentado algumas restrições, tendo em vista a maior probabilidade de lesões no tecido muscular. Por outro lado, a execução do alongamento após a prática de exercícios de intensidade moderada vem sendo defendida por vários autores, que consideram a elevação da temperatura corporal uma vantagem em relação à capacidade de extensibilidade dos tecidos conectivos, o que resultará em maiores ganhos em termos de flexibilidade.

LESÕES E NATAÇÃO
A extrema amplitude de movimento do complexo do ombro, combinada a instabilidade inerente da região, torna-o suscetível a uma variedade de lesões, de intensidades diversas, que são comuns na execução de tarefas diárias, bem como em atividades desportivas. As lesões associadas à microtraumatismos são aquelas que envolvem forças que sobrepujam as propriedades mecânicas dos tecidos, que sejam osso, músculo, cartilagem, tendão. São elas:
– Síndrome do Impacto de Ombro: Resulta de microtraumas de repetição aos tecidos que estão no espaço umerocoracoacromial, ou seja, tendão do supra-espinhoso, cabeça longa do bíceps, bursa subacromial ou articulação acromioclavicular.
– Tendinite de Ombro: A tendinite mais comum é a do supra-espinhoso, que realiza imensa quantidade de movimentos, sofrendo micro traumas repetitivos, podendo chegar à degeneração progressiva e necrose.
– Manguito Rotador: Os músculos do manguito rotador são suscetíveis a micro traumatismos repetidos que podem resultar numa lesão estrutural. Por exemplo: Considere um nadador do estilo livre, que pode abduzir (abrir) cada ombro até 7.200 vezes durante uma sessão de treinamento, neste caso, um micro traumatismo do manguito pode resultar em inflamação que leva a edema e, por conseguinte, maior colisão e outro micro traumatismo.
– Bursite do Ombro: Os pacientes com bursite de ombro, geralmente apresentam história de dor aguda e limitação da movimentação. O ombro se mostra doloroso a palpação, a dor a movimentação passiva é muito forte. A bursite de ombro pode apresentar uma reação secundária à tendinite, quando os depósitos tendinosos de cálcio se rompem nas bursas subjacentes. Os sintomas relacionados especialmente a bursite do ombro devem ser diferenciados da inflamação dos tendões das áreas do ombro e do rompimento das bainhas músculo-tendinosas.

PARA PREVENIR
O emprego de exercícios de alongamento e flexibilidade, sejam eles balísticos (com movimento) ou estáticos, atuam na prevenção e diminuição do risco e acontecimento de lesões tanto da cintura escapular, quanto da estrutura do joelho tanto por esforço repetitivo (LER), quanto de estiramentos e rupturas. Além de proporcionar um aumento da capacidade de remoção de substratos e toxinas produzidas e acumuladas durante sessões se treinamento.

Facilitação e melhor desempenho do sistema osteo-articular e neuro-muscular para a execução de gestos técnicos específicos da modalidade (melhora biomecânica do nado) e consequente melhora de performance e aumento da vida útil do atleta. Acredita-se que com o uso adequado, contínuo e correto dos exercícios de alongamento e flexibilidade; haverá melhora de desempenho e eficiência mecânica dos nadadores, manutenção da força e maior resistência a sobrecargas e uma diminuição ou queda total do risco de lesões, sejam elas de qualquer origem. As sessões de exercício de alongamento e flexibilidade podem ser sugeridas durante todos os períodos de treinamento, antes e após cada sessão de treinamento.

Segundo alguns renomados autores, embora não tendo respaldo científico, eles sugerem que o emprego dos exercícios facilitaria, manteria e aceleraria o processo de recuperação energética e metabólica dos músculos, devendo ser aplicados estímulos de até quatro repetições de no mínimo quinze segundos e de no máximo 40 segundos para cada exercício de alongamento.

Mario Roberto Guagliardi Jr é Mestre em Ciência da Motricidade Humana – UCB/RJ

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