É comum atletas e alunos tomarem nós, treinadores, como referência em tudo que envolva desempenho no esporte. Com o que como e deixo de comer não é diferente. Eu mesmo fiquei bem atento ao que Dave Scott – ícone do triathlon mundial e super referência para mim– disse sobre nutrição quando fiz o Kahuna Training Camp no ano passado, em Boulder (Colorado, EUA). E olha que ele deu muita atenção a esse tema.
Recentemente, em sua página, vi responder uma pergunta sobre a dieta paleo, se a aconselhava ou não. Segue abaixo um trecho. O que ficou claro é que ele não segue modismos, não.
“Uma escolha que precise de muitas privações torna tudo extremamente difícil de manter. Como atletas que continuamente desafiamos e estressamos nossos corpos, eu acredito que é importante nutrir-nos com uma maior variedade de alimentos integrais saudáveis. Eu sou um fã de dietas com uma maior proporção de gorduras saudáveis (como Paleo), mas eu prefiro a expandir minhas escolhas alimentares para incluir nozes, sementes, erva alimentados com carne, peixes de água fria, abacate, queijo, leite, azeitonas, óleo de coco e azeite.”
Por que ele diz isso? Porque funciona. Funciona para quem? Para ele. O grande desafio é apostar no conhecimento do seu corpo, com o competente auxílio de um profissional do ramo de nutrição.
Dieta detox
Por estar envolvido com a prática regular de esportes desde muito cedo, e percebendo claramente a relação entre minha alimentação e as respostas positivas do corpo, a “onda” detox não alterou minha rotina. Claro que, na medida em que tenho acesso a mais e mais informação, reviso hábitos, aprimoro, com orientação profissional. O que faço continuamente é evitar industrializados e componentes sabidamente inflamatórios e pobres, como os refinados (farinha e açúcar), conservantes e aditivos; opto por comida de verdade (orgânica sempre que possível), gordura e proteína com bom valor biológico e, claro, cuido sim a procedência e a quantidade de suplementação. O que funciona para mim, no entanto, pode não valer para outro triatleta.
Em uma conversa com o nutricionista Adriano Lenz, nosso parceiro na RaiaSul Assessoria Esportiva que administro, fica claro: paremos de nos deixar levar por empresas/marcas/blogueiros, ou mesmo estudos/pesquisas cujas motivações e interesses não ficam claros, e apostemos em conhecer e retratar o mais fielmente possível, por meio de exames, auto-observação e orientação profissional, o funcionamento do nosso próprio corpo, que é singular, único.
Adriano explica: “Entre atletas, os sintomas de um corpo intoxicado se confundem com os do overtraining. Por isso sempre requisito exames completos de vitaminas, sais minerais, taxas hormonais etc. Dados exatos permitem uma orientação nutricional personalizada e, por isso, mais eficaz (ou mais inteligente).”
Peso ideal
Ah, o tal do “peso ideal”… você se preocupa com isso? Aposto que sim. No triathlon, quanto mais leve você for, melhor será a sua performance. Certo? Mas e se o “peso ideal” significa perda de força e potência?
Ou seja, tal como qualquer parte do treinamento, sua relação com a alimentação precisa ser construída. E eu nem preciso lembrar da importância da nutrição quando estamos falando em performance.
Débora Finger, nutricionista parceira da RaiaSul, frisa: “Todos sabemos com qual peso nos sentimos bem. De fato, o número na balança deveria ser apenas um detalhe. Sentir-se bem é sempre mais importante do que ter um peso considerado “adequado”. E traçar objetivos realistas também é essencial. Obviamente, no esporte de endurance, manter-se magro e com o menor peso possível é altamente recomendado. Mas devemos ter cuidado para não exagerar e forçar um emagrecimento agudo/não gradual, à base de práticas inseguras de perda de peso que podem desencadear desordens alimentares a longo prazo”.
Não é fácil, mas é possível. Eu mesmo tive que aprender. E foi melhor quando passei a escutar o que o meu corpo me dizia.
Frank Silvestrin é triatleta profissional
e diretor da Raia Sul