Compreender as sensações e desenvolver estratégias para lidar com a dor é uma tarefa difícil, porém promissora para psicólogos do esporte
Por Ricardo Brandt
Tanto em treinamento, como em competição, a dor é uma marca registrada e quase que essencial no triathlon, porém é um dos maiores obstáculos que triatletas enfrentam à medida que vão atrás dos objetivos.
É indiscutível que o triathlon tem elevada demanda física e emocional, levando o triatleta aos limites de seus limiares fisiológicos, esforço prolongado ao tentar fugir de um pelotão, fazer ultrapassagem na natação, entre tantas outras situações peculiares da modalidade. Neste sentido, provavelmente essa é uma modalidade que, aquele atleta que consiga lidar melhor com a dor pode ter mais sucesso.
Não podemos desconsiderar que a dor pode ter um papel importante. Ela nos fornece informações sobre o nível de esforço, intensidade do treino ou prova, entretanto, também pode servir de alerta para que alguns cuidados sejam tomados, evitando lesões e outros acometimentos. A dor no triathlon pode ser produto de múltiplos fatores como frequência cardíaca elevada, acúmulo de lactato, depleção de glicogênio muscular, desidratação, entre outros (BROOKS, FAHEY E WHITE, 1996).
Desta forma, o triatleta precisa desenvolver estratégias para tolerar e lidar com a dor, especialmente com aqueles níveis mais elevados de dor. Possivelmente conseguindo construir estratégias emocionais, para lidar com isso, o triatleta possa alcançar limites superiores para treinar e competir, podendo representar um diferencial especialmente no alto nível esportivo.
Compreender as sensações e desenvolver estratégias para lidar com a dor é uma tarefa difícil, porém promissora para psicólogos do esporte. Para isso estratégias cognitivo-comportamentais, que trabalham a forma como a pessoa avalia a dor, têm sido usadas para mudar as percepções de dor e lidar com desconforto crônico.
Vale lembrar que a percepção da dor é subjetiva e difere de pessoa para pessoa, ou seja, nossas respostas as situações ou sensações dolorosas são diferentes. Isso também pode ser fruto das experiências e da forma como a pessoa lida com situações e sensações.
Precisamos compreender a dor, no próximo treino que estiver com dor, foque sua concentração nela e perceba se está queimando, formigando, quente ou frio? Essa análise sensorial irá ajudar a entender a dor e seus riscos. Feito isso, mude a atenção para outra parte do corpo que você não esteja sentindo dor. Aproveite essa sensação sem dor, e faça com que ela predomine sobre as outras sensações.
Também pode procurar outros dados sensoriais para mudar o foco, pode ser no sol, o vento, algum detalhe do percurso que está fazendo, fazendo isso, possivelmente irá aliviar sua dor. Mas lembre-se temos dores relacionada ao treino e dor vinculada a lesão. Nesse caso, não deixe de procurar um médico do esporte.
Ricardo Brandt é Doutor em Desempenho no Esporte, triatleta e autor do ebook “Treinamento mental no Triathlon”. @ricabrandt