Tiago Emanuel dos Santos é um dos principais paratriatletas brasileiros da atualidade. Morador de Taubaté (130 quilômetros da capital São Paulo), ele tem em sua história de vida um exemplo para todos nós. Natural de Pindamonhangaba, com 1,77 metros e 77 quilos, aos 33 anos ele vem treinando forte para as Paralimpíadas do ano que vem. Quem o vê, não imagina que há menos de cinco anos ele usava blusa de manga longa em tempo integral, para esconder a limitação do braço direito. Em 2003, ele perdeu os movimentos do membro em um acidente de moto.
“Eu era muito narcisista, só cuidava do corpo. Depois do acidente eu tinha muito receio de deixar o braço à mostra. As pessoas olhavam diferente para mim”, explica o atleta que teve uma lesão de plexobraquial – um grupamento de nervos da região do pescoço, responsável pelo controle dos movimentos e sensibilidade do braço.
Para conquistar a vaga olímpica, ele precisa estar entre os três melhores brasileiros no ranking mundial de paratriatlhon. A categoria que disputa, a TR-3 consiste em deficientes com perda total ou parcial de algum membro superior. Até a atualização do ranking, em junho, Tiago permanece como o quarto nome, entre os mais bem posicionados da lista geral do país, 14º no geral. Na briga pelas vagas nacionais, Tiago aponta o catarinense Jorge Luis Fonseca, de 31 anos (sétimo) e os paulistas Roberto Carlos Silva, de 48 anos (quinto) e Edson Dantas, de 49 anos (11º no geral), como fortes candidatos.
A distância para os rivais não intimida, pois a melhor marca da carreira (uma hora, quinze minutos e cinco segundos) foi obtida em novembro de 2014, na última etapa do Campeonato Paulista. O sonho da vaga olímpica poderia estar mais próximo, se Tiago não tivesse pela frente um grande obstáculo: a natação. “Eu sempre nado mal. Nas bikes eu estou no meio [do pelotão principal] e na corrida também, mas na natação…” lamenta.
Os melhores atletas da modalidade conseguem percorrer 750 metros em baixo d’água variando de 12 a 15 minutos. A média dos tempos de Tiago circula entre 22 e 25 minutos. “Isso mostra o quanto ele é resiliente, o quanto é determinado. Ele cai na água sabendo de tudo aquilo, já sabe que vai começar perdendo. Tem que ter muita cabeça para continuar na prova”, descreve o amigo Sidley Moreira.
Em todos os eventos que participou ao longo da carreira, Tiago jamais abandonou algum. Em 2012, em uma etapa de crosstriathlon do X-Terra, em Mangaratiba, a corrente da bicicleta estourou ainda no quilômetro quinze. Os cinco restantes, ele fez com a bicicleta nas costas. Terminou como vencedor, já que os outros concorrentes acabaram abandonando o circuito.
Aproximando-se do final da entrevista, Tiago está em pé, impaciente para regressar à rotina de treinos. Numa última pergunta, questionado sobre um cenário hipotético, onde ele poderia regressar ao dia do acidente e mudar seu destino, evitando a deficiência. Antes mesmo que a pergunta chegue ao fim, ele balança a cabeça insistentemente. “Se eu pudesse colocar na balança a minha vida ao longo dos meus 22 anos e os outros 11 com deficiência, eu não os troco de jeito nenhum. O que eu vivi nesses anos não tem preço.”
Por Mateus Fernandes