Que coisa boa deve ser, saber que no começo de novembro de 2019 você já está classificado para o Ironman Hawaii de 2020… Sim, isso aconteceu para o gaúcho Bruno Manzoni, de 32 anos, que venceu sua categoria no recente Ironman Flórida, foi o 2º amador a cruzar a linha de chegada e o 17º atleta no geral, incluindo os profissionais.
Nascido em Santiago, no Rio Grande do Sul, hoje ele vive e trabalha em Goiânia como professor de Educação Física e técnico de triathlon na Santiago Ascenço Assessoria Esportiva. Bruno conta que sempre foi ativo nos esportes, começando com corrida de rua e depois corrida de aventura. “Conheci o triathlon quando fui acompanhar meu amigo Rafael Falsarella, durante o Ironman Brasil de 2011. Desde então, sempre tive o sonho de completar essa prova, mas sabia que teria que começar com eventos menores. Meu primeiro triathlon foi um short, no mesmo ano, com bicicleta e roupa de borracha emprestadas. Lembro que foi muito difícil, por conta da intensidade da prova, mesmo assim conquistei um pódio de quarto lugar”, recorda-se ele.
A primeira prova de longa distância que fez foi o já extinto Ironman 70.3 Penha/SC, em 2012, onde completou com o tempo de 5h06min, que se recorda bem pelo sofrimento. “Lembro que na metade dos 21km, pensei… ‘o que estou fazendo aqui?’ O primeiro Ironman foi em Florianópolis 2013, com o tempo total de prova 10h39min. Essa prova foi muito bacana, pois tudo era novidade, inclusive correr uma maratona. De lá para cá foram 16 provas na distância 70.3 e nove de Ironman, sendo quatro participações no Mundial de Ironman 70.3 e três participações no Mundial de Kona”, conta Bruno.
Flórida
Para esse Ironman Flórida, Bruno conta que treinou dez semanas específicas, com mais de 20 horas semanais de treino, investindo muito na corrida, onde treinava entre 70 e 90km toda semana, sendo que segunda e sexta de maneira leve, e quarta e sábado forte. Também perdeu peso, o que o ajudou na maratona. “Aqui em Goiânia nós temos o privilégio de treinar junto com o Santiago Ascenço e alguns dos melhores amadores do país. A estrutura da cidade permite a gente pedalar no autódromo e correr em pista. Natação faço três vezes na semana, num total de 10km; ciclismo entre quatro e cinco vezes na semana, total entre 350 e 450km; corrida quatro vezes na semana, total entre 70 e 90km”, revela ele.
O relato da prova é muito interessante, como ele descreve em detalhes: “Procurei essa prova para bater o meu tempo, que era de 9h01min em Florianópolis 2018. Sabia que o clima e o percurso eram favoráveis, mas a distância é a mesma. Nos dias que antecederam a prova a temperatura mudou, sensação térmica de 0°C… Chegando na cidade, montei a bicicleta, e tive a infeliz surpresa de ver o quadro e clipe da bicicleta quebrados durante o transporte da companhia aérea. Na hora pensei em desistir, pois havia treinado e investido muito dinheiro nessa prova. Fui à feira ver se tinham bicicletas para alugar, mas todas estavam locadas. Aí tive a sorte de que um amigo e atleta (Erico Lemos) estava indo na sexta assistir a prova e pedi a bicicleta dele emprestada. Ele chegou, fizemos o bike fit de olho, adaptando sua bicicleta quadro 54cm para a minha medida 51cm. Pedalei 20 minutos, entre regular e testar. Fui fazer o check in às 14h e depois só descansar. No sábado, dia da prova, foi permitido o uso da roupa de borracha. Natação no estilo rolling start, percurso com duas voltas.
Esperei dois minutos para largar e já entrei no meio do pelotão. Na segunda volta, ainda tinham atletas mais lentos largando, ocasionando trânsito na água. Natação no meu relógio marcou 4050 metros para 1h05min.
Transição 1, coloquei casaco e luvas para pedalar, temperatura de 9°, preferi perder esse tempo mas ficar confortável ao longo dos 180km.
Ciclismo com asfalto excelente e altimetria com 480m de ganho no total, bem plano. Ruas e estradas abertas ao trânsito, a educação prevalece e todos respeitam os atletas.
Alimentação e hidratação tudo dentro do planejado, utilizando todos os postos de apoio da prova. Tempo total nos 180km 4h38min.
Transição 2 foi rápida, tirar a luva e o casaco, calçar o tênis, pegar gel e garrafa de suplementação.
Corrida é a minha preferida das três modalidades, e tinha treinado muito para ela. Percurso plano, clima ameno e duas voltas de 21km.
Deixei o relógio na tela da frequência cardíaca e fui. Saí em 6° lugar da categoria, mas 18 minutos atrás do líder e 24 minutos atrás do líder amador.
Corri o programado dos treinos, e só fui olhar o relógio no km 21, para saber o tempo da meia maratona, 1h23min. Nesse retorno minha esposa avisou que eu já estava em 4° no geral e 2° na categoria. Isso foi motivador para continuar fazendo força, pois sabia que a próxima vez que iria encontrá-la seria na chegada. No retorno do km32 vi que estava próximo dos líderes. Hoje não lembro muito bem do que aconteceu daí para frente, só sei que passei por muitos atletas e estava disputando com o relógio. No km37 olhei qual era o tempo total de prova, e para minha surpresa, marcava 8h20min, descobri ali que iria fazer um tempo incrível de prova e uma maratona mais incrível ainda. Tempo total 42km 2h48min. Ao cruzar a linha de chegada, não tinha noção da colocação, era só comemorar e agradecer. Minha esposa e meu amigo estavam lá esperando, emoção e choro na hora. Depois que fui saber o tempo total e colocação: 8h41min42s, campeão da Categoria 30/34 anos e vaga para Kona 2020."
Para o ano que vem, além do Hawaii, onde tem o objetivo de ser Top 10 em sua categoria, Bruno está inscrito na Maratona de Boston, mas ainda podem aparecer mais provas ao longo do ano. E para um amador que deseja melhorar seu desempenho, o atleta e treinador dá as dicas: “Treinar muito, muito mesmo. Pensar que a competição é você contra você, não contra amigos, principalmente os virtuais, pois o que vemos hoje em dia são amadores que treinam muito e forte. Cada um tem sua rotina, por isso não se compare com ninguém. O que vale é o dia da prova”, e completa, “Não tenho patrocínio ou apoio, faço tudo por mim e para meus atletas, pois sirvo de inspiração para eles. Sou muito agradecido à minha esposa, que cuida de nossa princesa de seis meses enquanto saio para treinar, minha família que ajuda sempre, e meus amigos, sem eles não chegaria aonde estou."
BIO
Nome: Bruno Pinheiro Manzoni
Idade: 32 anos
Cidade onde nasceu: Santiago/RS
Cidade onde vive: Goiânia/GO
Tempo de triathlon: 8 anos
Altura: 173cm
Peso: 64kg
Roupa de borracha: Roka Maverick Pro II
Óculos de natação: Roka R1
Bike: Cervélo P5 Disc (quebrou) – Ironman Flórida (Shiv Sworks)
Capacete: Giro AeroHead
Sapatilha: Sidi T3
Tênis de corrida treino: Nike Zoom Fly Flyknit
Tênis de corrida competição: Nike Next %
Óculos de sol: Oakley FlightJacket
Equipe: Santiago Ascenço
Patrocínio/Apoio: Nenhum