Qual a cadência ideal do ciclismo no Triathlon?

Entenda o efeito da cadência do ciclismo na corrida

Recentemente, concluí minha certificação Trisutto e um dos assuntos abordados no curso era a cadência de ciclismo em provas de Triathlon.

Brett Sutton, um dos maiores técnicos triathlon do mundo, considera no que diz respeito à sua metodologia e tudo o que ele já observou na prática durante muitos anos como coach, que a cadência no ciclismo do triathlon fica entre 72-84 rpm.

Em sua observação, ele considera que o atleta, em cadência mais baixa, consegue fornecer um consumo de O2 controlado e manter níveis sustentáveis de lactato, por controlar melhor o seu esforço.

Existe uma diferença entre homens e mulheres, por conta da força muscular. Homens, em provas de Ironman, tendem a ter em média 72 rpm, mulheres, 76.

É correto dizer que devemos considerar alguns fatores como nível de habilidade do atleta, sua experiência no ciclismo, bike fit,  condições de vento em uma prova e altimetria.

Joe Friel, outro papa da literatura e também coach, fala sobre um estudo francês (1), que os cientistas queriam verificar o efeito da cadência do pedal do ciclismo no desempenho de corrida subsequente.

No experimento, oito triatletas experientes completaram três sessões de ciclismo.  Em cada sessão, eles pedalaram a 90% do limite de lactato, que é aproximadamente o FTP, durante 30 minutos.

Isso teria sido um esforço semelhante ou um pouco mais difícil do que o que seria feito em um triathlon de distância olímpico.

Em seguida, eles rapidamente mudaram para uma corrida até a fadiga a 85% da velocidade máxima, mais ou menos o ritmo que seria executado em um tri de distância de sprint.
A variável estudada neste experimento foi a cadência no ciclismo.

Nos últimos 10 minutos de cada sessão de 30 minutos, os atletas pedalaram a 1) uma cadência livremente escolhida, 2) uma cadência 20% maior que a #1 e 3) uma cadência 20% menor que a # 1.
Assim, por exemplo, se o nº 1 era 90 rpm, então o nº 2 era 108 rpm e o nº 3 era 72 rpm.

Chegaram a conclusão que, ao pedalar a uma cadência 20% menor do que a escolhida livremente, o tempo até a exaustão na corrida aumentou 37% em média em relação ao desempenho da cadência escolhida livremente.

A cadência da corrida não foi alterada pelas cadências do ciclismo.
Também descobriram que perto do final da sessão de ciclismo de baixa cadência, o estresse colocado nos atletas, medido pelo VO2, frequência cardíaca, frequência de ventilação e acúmulo de lactato não eram significativamente diferentes em comparação com a sessão de cadência escolhida livremente.

A alta cadência não teve a mesma resposta em comparação as outras duas medidas, incluindo até o tempo de exaustão.

Joe Friel ainda fala sobre um estudo realizado na Universidade do Colorado, que contradizia o estudo realizado pelos franceses, feito há alguns anos (3).

Foram selecionados treze triatletas experientes, que completaram três sessões de ciclismo em dias separados.

Em cada dia eles pedalaram 30 minutos em alta intensidade e depois correram  de 3.200 metros no melhor esforço.  A única coisa que mudou foi a cadência no ciclismo.
Assim como realizado no estudo francês, eles rodaram um em uma cadência escolhida livremente, um segundo em uma cadência 20% superior à escolhida livremente e um terceiro em uma cadência 20% inferior à escolhida livremente – durante os 30 minutos inteiros (isso é diferente do Estudo francês em que apenas os últimos 10 minutos na bicicleta variaram).

Os pesquisadores constaram que, depois de pedalar em alta cadência (100-110 rpm), os tempos de corrida eram quase um minuto mais rápidos, em média, do que com o ataque livremente escolhido.  E, além disso, as cadências de corrida também foram mais rápidas.  Os comprimentos das passadas e a biomecânica observada permaneceram inalterados.

Abbiss, C. et al (2006), observou 10 triatletas no Ironman Western Austrália, que estiveram entre os 10% melhores tempos da prova (4). Verificou a potência, cadência e velocidade de cada um considerando as condições de vento a favor e contra na prova, durante as 3 voltas. Concluiram que a potência, cadência, torque líquido e velocidade no foram significativamente diferentes entre as seções de vento frontal e de cauda.

O desvio (variação) na velocidade e torque, no entanto, foi significativamente maior em um vento contrário, que foi provavelmente causado por um aumento no arrasto aerodinâmico.

Finalmente, este estudo forneceu algumas evidências para apoiar a hipótese de que o ritmo durante o ciclismo é controlado por meio de estratégias de regulação dinâmica continua que, concomitantemente, tentar manter a homeostase enquanto completam quantidades conhecidas de trabalho o mais rápido possível.

Isso reforça os 20% sugeridos por Joe Friel, mesmo utilizando um “n” pequeno nos estudos.

Para concluir, penso que a cadência ideal varia de atleta para atleta, considerando seu tempo no esporte, entre outros fatores, que podem afetar este número.

Não existem muitos estudos acerca desse tema, envolvendo diferentes níveis de atletas e considerando todas as distâncias de provas do nosso esporte.
A melhor maneira de você descobrir qual é a sua cadência é treinando e tendo seus resultados analisados pelo seu treinador, para saber aonde terá um menor custo energético e uma melhor corrida.

Prof. Esp. Junior Cordella
Ironman Certified Coach
Trisutto Certified Coach
IYU LEavel 1 Coach
CBTRI level 2 Coach

1. Vercruyssen, F et al. 2005. Cadence selection affects metabolic responses during cycling and subsequent running time to fatigue. Br J Sports Med 39(5):267-72.

2. Gottschall JS et al. 2002. The acute effects of prior cycling cadence on running performance and kinematics. Med Sci Sport Exerc (34(9):1518-22.

3.Joe Friel’s Blog:
http://www.trainingbible.com/joesblog/2008/03/effect-of-cycling-cadence-on-running-in.html

4. Abbiss, C. et al. 2006. Dynamic Pacing Estrategies during the Cycle Phase of na IRONMAN Triathlon.

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