Imagine competir o Mundial de Ironman no Havaí disputando o título de sua categoria de idade e saber que, aos 11km da maratona você lidera com 19 minutos de vantagem para o 2º colocado, e que aos 35km essa vantagem já caiu para perigosos quatro minutos. Como terminou a história? Roberto Azevedo, brasileiro, 67 anos, campeão mundial de Ironman 2019 na categoria 65/69 anos, com 64 segundos de vantagem para o 2º colocado… Ufa!
Roberto é um veterano no triathlon, esporte que pratica há 32 anos e que descobriu após uma uma ruptura de ligamento cruzado anterior. Desde então já são 30 provas de Ironman completadas – entre tantas outras nas demais distâncias – e muita experiência e sabedoria para passar. Ele foi esportista a vida inteira, futebolista de talento, tenista esforçado e corredor, desde quando correr na rua era considerado uma “aberração”.
O primeiro triathlon que fez foi no Rio de Janeiro, do Leme ao Leblon. Distância: 1.000m de natação, 30 km de ciclismo e 7 km de corrida. “Eu, e um amigo ‘veterano’ há dois anos de Triathlon na época, acordamos no meio da noite para nos alimentarmos e voltarmos a dormir, dado o ‘desgaste absurdo que iríamos passar durante a prova’”, diverte-se ele ao lembrar desse espírito aventureiro do triathlon no final da década de 80.
De lá pra cá muita coisa aconteceu na vida desse médico psicoterapeuta e suas vivências esportivas mais significativas ele considera que ocorreram em 2016 e 2018. “Em 2016 não completei o Ironman Brasil, em Florianópolis, por hipotermia. Desde então, passei a tratar o IM na minha vida de uma forma mais dedicada, mais focado, determinado, me esforçando e atento em aprender e entender cada vez mais a complexidade desta prova. Já em 2018 cheguei a Kona com 15 dias de antecedência antes do evento, muito preparado fisicamente, como vice-campeão do ano anterior e com chances de ser campeão. No segundo dia na cidade fui parar no hospital com uma torção intensa de tornozelo; cinco dias depois voltei ao hospital com uma infecção (Epididimite), infecção que contraí (muito provavelmente) por conta do grande stress que passei dias antes. Depois disso, não larguei e perdi a forma física por quatro meses. Com tudo o que passei, aprendi que nada é tão grave, nada é uma catástrofe. É só voltar e perseverar. Grave é pensar que já se está velho, com o joelho afetado por osteoartrose medial e que teria chegado a hora de parar”, ensina Roberto.
Recuperado desta decepção ano passado, Roberto voltou para 2019 ainda mais motivado e sempre buscando algo novo, “enquanto faço as mesmas ‘coisas básicas’ (nadar, correr e pedalar) de forma diferente”, ressalta ele, e complementa: “A maioria das escolhas não dá certo, mas aquelas que funcionam vão construindo ‘O CAMINHO’. Cada vez mais no ‘CAMINHO’, esse é o objetivo, ou seja, a capacidade de dominar a prova e não ser dominado por ela. Das 30 provas de Ironman que já realizei, fora as situações de 2016 (Floripa) e 2018 (Havaí), eu perdi umas 25 vezes para a prova. ‘Ironman é uma coisa feita para dar errado’: algo que ouvi e entendi.”
Ele chegou a Kona este ano com a ideia realística do que poderia fazer, examinando os novos adversários e concluindo que o pódio poderia ser possível. Foi também com a atitude mental de chegar em primeiro lugar. “Só de estar ali, naquela hora, com tudo o que aquilo significa, eu já me sentia realizado. Nadei e pedalei bem para os meus parâmetros. Fiquei feliz e aliviado de estar tendo uma mecânica de corrida razoável dada a minha lesão crônica de joelho. No km 11 recebi a informação da Fernanda Palma (meu anjo da guarda) de que estava a 19 minutos do segundo colocado e perguntei: ‘e do primeiro?’. Ela respondeu: ‘você é o primeiro!!!’ Depois de acreditar nisso, vi que tinha chances de ganhar! Fui tomado por uma emoção profunda: ‘puxa!! Como tudo na minha vida é tão bom!!’ No km 35, Fernanda me informou que a minha diferença para o segundo colocado tinha caído para 4 minutos. A partir daí, fiz o maior esforço físico e mental da minha vida. Disse para mim mesmo: ‘você não existe, agora é ir, ir e ir, nada mais!! Terminei 64 segundos à frente do segundo colocado”, relembra Roberto.
Para conseguir este feito impressionante, Roberto trabalha perto de 50 horas semanais e treina 18 a 26 horas por semana. “Tenho uma relação com minha esposa do segundo casamento, e com meus três filhos do primeiro casamento, que se harmoniza com a necessidade e a vontade de eu poder dedicar a vida do ‘dia a dia’ para trabalhar e treinar intensamente”, e ele lembra do que fala seu grande amigo e conselheiro Ciro Violin – que foi campeão mundial da categoria 30/34 anos no Havaí, em 2010 –: “Para fazermos algo com seriedade, dedicação e amor que temos, e na intensidade em que fazemos, SÓ dá para fazer duas coisas ao mesmo tempo!”
Para quem pensa que Roberto Azevedo vai tirar longas férias, está enganado. Neste final de semana ele já estará alinhado para a largada do Ironman 70.3 São Paulo e, no dia 1 de dezembro, pronto para fazer o Ironman de Mar del Plata, na Argentina. “Ano que vem farei mais três IM70.3, quatro Ironman ‘full’ e algumas outras provas como treino. Meu objetivo é ficar sempre no estado da busca da excelência”, e para o atleta amador como ele, que procura sempre o crescimento, ele reforça: “Ao amador que ama esse esporte, qualquer que seja o seu objetivo, ele está certo por ser o SEU objetivo.
BIO
Nome: Roberto Azevedo
Profissão: Médico Psicoterapeuta
Idade: 67 anos
Tempo de triathlon: 32 anos
Altura: 1.78m
Peso: 66kg
Roupa de borracha: ROKA
Óculos de natação: Tyr
Bike: Quintana Roo
Capacete: Rudy Project
Sapatilha: Specialized
Tênis de corrida treino: New Balance
Tênis de corrida competição: New Balance 1400
Óculos de sol: Uvex
Equipe: E.C.Pinheiros
Técnico: Luis Gandolpho
Nutricionista: Fernanda Palma
Preparador físico: Silas Rodriguez
Fisioterapeuta: Juliano Leite
Amigos Conselheiros: Pedro Cerize / Carlos Dolabela / Ciro Violin