Ser muito magro é determinante no triathlon?

Fui questionado pelo menos três vezes desde o último Mundial em Kona por alguns atletas sobre o impacto que o seu peso corporal teve em suas fracas performances. Não vou citar estes atletas publicamente em relação a esta questão, e espero explicar de forma mais ampla para aqueles que têm preocupações sobre o impacto disto sobre suas próprias provas.

Em primeiro lugar, deixe-me falar sobre as questões nutricionais e de peso de maneira bem clara. Eu já recebi muitas críticas sobre este assunto, mas a verdade é que você não treina mais de 50 vencedores de Ironman sem ter uma compreensão básica nutricional para o dia da competição. Na verdade, antes de Kona, comentei com a Daniela Ryf que alguns atletas (homens e mulheres) não seriam a ameaça que foram em anos anteriores, devido à impressionante definição muscular que apresentavam, mas na minha opinião o principal motivo seria o sério quadro de baixo peso corporal.

A nutrição para uma prova não é iniciada no dia do evento. O que você come regularmente é mais crítico para o seu desempenho na prova do que você realmente consome no dia da prova. Durante o treino para o Ironman, a falta de gordura em seu plano diário de nutrição é um grande fator negativo. Eu sei que é assim e já vi isso acontecer muitas vezes.

Ao longo dos anos, isso levou a algumas estratégias pouco ortodoxas sobre o que os atletas devem comer. Por exemplo, há muito tempo já tem sido relatado sobre como eu costumava visitar Chrissie Wellington para me certificar de que ela havia comido seus chocolates e queijos. Eu costumava comprar para Andrew Johns dois cheesecakes por semana. Reto Hug foi outro que sempre foi necessário este tipo de ação para não deixar seu peso baixar muito. Mais recentemente, foi Dani Ryf que postou no Twitter uma foto segurando um enorme pedaço de queijo que eu pedi para ela para comer no momento em que ela deixou Cozumel para Kona.

As calorias foram discriminadas ao seu nível mais baixo, mas independente de serem classificadas como do tipo “saudável” ou “não saudável”, são combustíveis inflamáveis. E, dado o nível de treinamento dos atletas de Ironman, principalmente em alto rendimento, eles precisam de uma grande quantidade de combustível.

Agora; alguns atletas entendem como isso é importante e cedem aos meus desejos sobre o consumo de gordura. Outros vão junto com eles, porque mesmo quando não concordam, eles percebem que eu sou o treinador e obtenho resultados. Finalmente, há alguns que são tão desesperados para ter um “abdômen rasgado” que eles recusam, não importando o impacto que isso terá sobre o desempenho.

Então, sim, para certos atletas, quando eu sei que a luta não vai valer a pena o esforço, eu passo longe da área de nutrição e deixo-os fazer por conta própria. Alguns acabam fazendo um ótimo trabalho, outros seria bem melhor se tivessem comido chocolate…

O que eu não vou tolerar é ser criticado por não aderir à mais recente “fórmula correta de alimentação” pregada pelos nutricionistas, ou por não estar “espantado” com a nova moda nutricional desta temporada, que promete melhorar o desempenho. Elas vêm e vão. Sempre existiram e sempre existirão.

A hipocrisia completa da ‘tri-moda’ nutricional é melhor ilustrada com um exemplo: Em 1991, eu costumava aconselhar muitos atletas para treinar e se recuperarem com leite achocolatado. 1991! Como você pode imaginar os “peritos” na comunidade do triathlon tiveram grande prazer rindo, zombando e me ridicularizando, falando que obviamente esta era a dica mais estúpida de aconselhamento nutricional. 23 anos depois e sob a sanção integral da WTC, é divulgado que um dos melhores produto para a recuperação pós-treino é o “Chocolat Milk”? Basta perguntar a Mirinda Cafre e Craig Alexander.

Então, sim, eu olho para um monte desses “gurus” da nutrição que surgem sem ter trabalhado com nenhum atleta de sucesso e ainda sou descriminado como um homem de Neandertal … Isso vem acontecendo há décadas.

Sei que é muito reconfortante pensar que “especialistas” em nutrição têm a ciência a seu favor e são capazes de deixar sua dieta de prova acessível, sem você ter que se preocupar com isso. O grande problema é que como muitas ciências específicas, a “ciência” em si pode funcionar no laboratório, mas é totalmente danificada quando aplicada ao mundo real. Há tantas coisas interligadas que precisam ser consideradas para alcançar o resultado desejado.

Deixando a nutrição de lado, o que é mais importante para a sua prova é o processo de pensamento sob pressão. Você pode ter toda a sua “nutrição perfeita” definida e preparada, mas por causa de uma falha de equilíbrio sob pressão você pode decidir ou não passar num “aid station” por exemplo. Talvez você deixe cair um pouco de comida ou tome uma decisão rápida tipo: “eu não preciso mais disso”.

Mesmo que você possa ser capaz de escapar com erros como este em um IM 70.3, na hora do grande show, num Ironman completo, qualquer chance de um bom desempenho pode terminar em dez segundos no momento de decidir “vou ou não vou”.

Para aqueles que um dia querem ir para Kona, aprender como obter seu equilíbrio nessas situações é dez vezes mais valioso para você do que o que está comendo.

Portanto, para concluir, eu fico feliz em deixar meus concorrentes delirarem sobre o quão importante os mais recentes avanços nutricionais são, para que eles possam continuar soando como treinadores bem informados. Eu também presto pouca atenção nos médicos, que não são treinadores, mas vendem os seus conhecimentos sobre o que é melhor para um atleta, mesmo sem conhecê-los.

Mas para um simplório como eu, coloco o meu foco em 3 coisas:

1) Educar as pessoas a tomarem as decisões corretas sob pressão.

2) Saber a quantidade de calorias que você precisa por hora.

3) Usar as calorias dos alimentos de formas que você esteja fisicamente e psicologicamente confortável.

Eu não posso dar um número de quantas são as calorias “corretas” para você. O meu negócio é fazer o trabalho feito e eu garanto que se você seguir as 3 principais pontos que você sempre vai ter uma prova livre de “problemas”.

Brett Sutton é um dos mais renomados treinadores do mundo no triathlon e atualmente, entre outros, técnico de Daniela Ryf

trisutto.com

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