O treinamento na altitude, que já foi considerado o pináculo das estratégias de melhoria do rendimento aeróbico, tem hoje seus mecanismos adaptativos revistos por técnicas mais precisas de investigação
Por Roger de Moraes
Ainda que o método científico seja um dos meios mais fidedignos para aproximação da verdade, a mesma é uma utopia sujeita à capacidade humana de enxergar o real. O treinamento na altitude, que já foi considerado o pináculo das estratégias de melhoria do rendimento aeróbico, tem hoje seus mecanismos adaptativos revistos por técnicas mais precisas de investigação.
Existem evidências de que treinar na altitude aumenta a quantidade de hemácias e de capilares nos músculos esquelético e cardíaco, mas reduziria a densidade mitocondrial nesses órgãos. Tais achados não devem ser considerados paradoxais se imaginarmos que é exatamente a indisponibilidade de oxigênio o fator responsável por aumentar adaptativamente o transporte e a distribuição, e reduzir o consumo desse gás.
De fato, atletas na altitude são incapazes de desempenhar de forma semelhante ao que fazem ao nível do mar e usam menos unidades motoras do tipo II. Embora o referido desuso impeça adaptações especificas associadas à máxima intensidade individual, verifica-se que o potencial enzimático glicolítico estaria sendo aprimorado e que alguns atletas com alto VO2 máximo poderiam inclusive melhorar a potência aeróbica mesmo com modesta redução da densidade mitocondrial. Tal situação explica por que o treinamento na altitude pode ser benéfico para alguns e prejudicial ou inócuo para outros, e reforça a necessidade da avaliação individual das necessidades.
A esse respeito, por reduzir o fluxo de sangue renal, o intervalado de alta intensidade pode ser utilizado com cautela para aumentar, mesmo com o atleta ao nível do mar, a secreção de eritropoetina e promover aumentos na síntese de hemácias e da capacidade de transporte de oxigênio. Neste sentido, talvez um dos maiores benefícios do treinamento de altitude seja combinar adaptações anaeróbicas e aeróbicas e, ao mesmo tempo, impedir que o atleta motivado treine forte demais como faria ao nível do mar.
Roger de Moraes – @demoraesroger
Ex-triatleta Profissional, Professor de Fisiologia Geral
Doutor em Ciências com Pós-Doutorado no Laboratório de Investigação Cardiovascular do Instituto Oswaldo Cruz – Fundação Oswaldo Cruz