Ambos exigem disciplina, resiliência, estabelecimento e controles de metas, planejamento e estratégia
Por João Victor Guedes dos Santos
A associação entre esportes de endurance e o mundo corporativo não é uma novidade. Há alguns anos a Folha de São Paulo publicou o artigo “Correr é o novo MBA” destacando algumas dessas semelhanças. A rede Globo já havia feito uma matéria sobre o tema (vídeo disponível no final o texto)
São diversos os benefícios dessa associação, uma vez que ambos exigem: disciplina, resiliência, estabelecimento e controles de metas, planejamento e estratégia.
Não diminuindo a importância destas qualidades, escolhemos abordar nesse artigo dois pontos específicos que estão mais conectados com o momento que estamos vivendo: a capacidade de aprendizado (“learning mode”) e o foco no momento.
A preparação para uma prova de Ironman é longa, exaustiva e dinâmica. São três modalidades diferentes que exigem além do desenvolvimento muscular e cardiovascular, o aprimoramento técnico permanente. Dificilmente um atleta domina as três modalidades com maestria.
Assim como no mundo corporativo, são inúmeras as variáveis. Estar no “learning mode” e valorizar os pequenos aprendizados é tão importante quanto encontrar as grandes apostas. O presente momento traz uma perspectiva jamais vista tornando a capacidade de analisar, refletir e tirar lições dos lugares e fatos menos óbvios, práticas de suma importância para os negócios.
Uma das maiores lições aprendidas em uma prova de Ironman é bem particulares para essa situação que fomos forçados: às vezes, é preciso desacelerar para alcançar a meta final.
Do mesmo modo que a preparação, a prova de Ironman é longa (3.860 metros de natação, 180,25 km de ciclismo e 42,2km de corrida). O recorde mundial é de pouco menos de 8 horas, a média é de 12 a 14 horas e alguns terminam em 17 horas. Portanto, o planejamento é chave.
E mesmo com todo o planejamento, uma coisa é certa: os imprevistos vão acontecer, seja um pneu furado, câimbras durante a prova, óculos de natação arrebentados no mar, entre outras inúmeras situações que nos pegam desprevenidos.
Estes imprevistos podem ser potencializados mediante o stress físico e a pressão de ver anos e anos de treinamento podendo ir por água abaixo, o que acaba por colocar em prova nossa estabilidade mental. Permanecer calmo e manter a cabeça no momento pode ser a diferença entre finalizar ou não a competição.
No mundo corporativo também enfrenta-se stress e muita pressão. Imprevistos e erros humanos acontecem, podendo impactar diretamente no resultado do trabalho. Semelhante à prova de triathlon, perder a cabeça diante de um desafio também pode ter um preço alto, se tornando uma barreira, na maiorida das vezes mental, para alcançar o melhor de si e encarar o problema momentâneo. Excelentes líderes são bons em gerenciar o stress, procurando manter a mente sã e incentivando as pessoas a fazerem o mesmo.
Nem sempre é fácil mas assim como as aptidões físicas, essa também é uma habilidade treinável e pode ser adquirida. A regra de 5” (regra de ouro de Thiago Vinhal, um dos maiores triatletas brasileiros de longas distâncias) ajuda nesse sentido. Quando diante de um imprevisto, temos 5” para agir, a pergunta interna que deve ser feita é: o que posso fazer para ficar melhor agora? Com isso, não há espaço e nem tempo para o stress momentâneo levar ao fracasso, pois a perspectiva foi mudada em 5”.
Por fim, cabe uma provocação adicional relacionada com nossa capacidade de adquirir novas habilidades. Assim como no triathlon, na vida profissional o esforço é mais importante que o talento. Essa é outra regra de ouro, dessa vez do Bernardinho, que obteve sucesso tanto no esporte, técnico multicampeão do voleibol brasileiro, quanto no empreendedorismo.
Nos dois mundos, frequentemente, glorificamos demais a ideia de talento natural. Diminuímos o fato de que é o trabalho duro e a persistência que acabam por trazer sucesso. O talento natural é excelente, é inegável seu papel para trazer bons resultados, porém grande parte da evolução se deve ao esforço, treino, erro, aprendizado e melhoria.
Portanto, o sucesso, nos dois mundos, depende da disponibilidade, paciência e escolha de treinar, esses resultados serão ainda melhores quando alinhados com os talentos naturais.
João Victor Guedes dos Santos é Gerente Global de Marketing da Johnnie Walker. @jv.guedes ou pelo Linkedin